Chanceler venezuelano afirma que país venceu batalhas diplomáticas na ONU e OEA
O ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, fez nesta segunda-feira (28) um balanço positivo das reuniões diplomáticas ocorridas na Organização de Estados Americanos (OEA) e no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Na pauta das duas organizações, estava a tentativa de golpe contra o presidente Nicolás Maduro. Na última semana, o oposicionista Juan Guaidó se autodeclarou “presidente encarregado” do país e foi reconhecido pelos presidentes de países como Estados Unidos e Brasil.
“O governo dos Estados Unidos foi derrotado na OEA. Por isso, eles não esperavam, pois não contavam com a dignidade dos governos e dos povos latinos. Então, foram à ONU, e tiveram que ouvir a posição rotunda da maioria dos diplomatas, que deram uma cátedra de respeito à soberania nacional”, elogiou Arreaza, em entrevista coletiva. No caso da ONU, o governo Donald Trump havia solicitado uma reunião extraordinária no Conselho de Segurança, mas a proposta de deslegitimar Maduro não funcionou.
O presidente da Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela, Diosdado Cabello, também interpreta que foram obtidas “importantes vitórias” nos últimos dias contra os países que tentam derrotar o governo bolivariano. “Nós os derrotamos nas eleições, na OEA, na ONU, nos quartéis, nas ruas. Vencemos com a verdade. Impôs-se a bandeira da paz sobre o ódio opositor. Vamos em busca da vitória moral, com a dignidade do povo. Em qualquer batalha, nós venceremos”, escreveu em sua conta oficial no Twitter, neste domingo (27).
“Esquizofrenia diplomática”
Nas reuniões realizadas na OEA e na ONU, os Estados Unidos buscavam apoio de países aliados para comunicar a “deslegitimação coletiva” do governo Maduro. No entanto, não obtiveram maioria nem na OEA, nem no Conselho de Segurança da ONU. “O povo venezuelano pode se considerar vitorioso”, ressaltou o chanceler Jorge Arreaza, na entrevista desta segunda. O ministro venezuelano explicou ainda que “não houve votação na OEA, nem na ONU”. Ou seja, a análise sobre a posição de cada país foi feita a partir das exposição dos chefes de cada delegação estrangeira.
Passados esses enfrentamentos, as tensões entre os EUA e a Venezuela devem diminuir, segundo Arreaza: “Estamos em novo momento das relações com os EUA. Seguiremos mantendo o diálogo”, prometeu. A informação de que seria retomado um canal de diálogo entre a diplomacia dos dois países havia sido anunciada pelo presidente Maduro no último sábado (26), durante um pronunciamento na rua de Caracas, junto aos apoiadores. “Estamos vendo a possibilidade de um ‘escritório de interesses’, que vai promover o diálogo e realizar trâmites burocráticos”, enfatizou o chanceler. Foi assim que Cuba e Estados Unidos mantiveram as relações por mais de cinco décadas, até o restabelecimento da diplomacia no último ano do governo de Barack Obama.
Arreaza informou que foram enviados representantes do governo dos EUA para a Venezuela a fim de abrir esse canal de diálogo. “Juntos, estamos estudando a melhor fórmula para manter o diálogo entre o governo venezuelano e o dos EUA. O Estado norte-americano possui diferentes porta-vozes e um contradiz o outro. Por isso é que, às vezes, parece que existe uma espécie de ‘esquizofrenia diplomática'”, ressaltou. “No governo dos EUA, existem duas realidades: uma real e outra digital, a partir do que dizem no Twitter. Isso porque o pagamento do lobby nos EUA é legalmente permitido – isso seria corrupção em outros países. Uma reunião com o secretário de Estado é paga, as leis são pagas. Então, imagino que eles sofrem pressão. Por isso, existem essas duas posições. Uma é aquela anunciada nos meios e a outra é a real, a que funciona na prática”, explicou o ministro de Relações Exteriores da Venezuela.
Relação com a oposição
O governo também considera a abertura de um canal de diálogo mais efetivo com a oposição venezuelana, mediado por governos estrangeiros. “Estamos em contato com a chancelaria de México, que assim como a da Rússia, propôs mediar um diálogo. Não existe nada formal, mas existem conversações abertas. Estamos esperando que a oposição venezuelana manifeste sua intenção em dialogar”, disse o chanceler. “Existe um diálogo permanente com a oposição, por meio de reuniões secretas com porta-vozes. E são secretas porque eles querem”.
O papa Francisco se posicionou neste domingo (27) sobre os enfrentamentos entre chavistas e opositores, durante um entrevista coletiva no avião em que retornava ao Vaticano após a Jornada Mundial da Juventude, no Panamá. “Espero que cheguem a um acordo, e que seja uma solução justa e pacífica. O que me assusta é o derramamento de sangue. Quero pedir a grandeza de quem pode ajudar. O problema da violência é o que me assusta”, declarou o pontífice.
A oposição venezuelana convocou novo protesto de rua para a próxima quarta-feira (30). A manifestação foi anunciada, na noite de domingo, pelo deputado Juan Guaidó, que fez juramente simbólico no dia 23 de janeiro, na primeira manifestação massiva da oposição dos últimos dois anos.