Doria e Aécio se enfrentam indiretamente na Câmara

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: PSDB/Divulgação

A eleição do líder do PSDB na Câmara dos Deputados rachou ao meio o partido entre os grupos do governador de São Paulo, João Doria, e do deputado Aécio Neves (MG), e acabou com a eleição do deputado Beto Pereira (MS) sem o apoio da maioria dos 32 deputados. Quase metade da bancada se recusou a votar ontem e acusou o atual líder, Carlos Sampaio (SP), de manobrar para eleger Pereira, seu aliado.

A votação estava marcada para às 17h. Cerca de uma hora depois, o grupo liderado por Celso Sabino (PA) deixou a sala de reuniões do PSDB em direção ao gabinete de Aécio, onde seu grupo realizou as reuniões, dizendo que a antecipação foi ilegal. Ele protestou que o estatuto do partido prevê que a eleição ocorrerá na última semana antes do recesso parlamentar, no dia 18 de dezembro, e que a antecipação teve o objetivo de que o deputado Miguel Haddad (SP), que é suplente, pudesse votar – o titular, Guilherme Mussi (PP-SP), está de licença e retorna amanhã.

Nos cálculos de ambos os grupos, a eleição estava empatada, com 16 votos de cada lado. Sem Haddad, seriam 16 a 15, com vitória de Sabino. Com o suplente votando, o desempate seria no critério de idade, o que daria a vitória a Pereira por quatro meses – ele tem 42 anos. O grupo de Sabino não descartava ontem esperar a saída de Haddad para protocolar uma lista de apoio à troca do líder, já que o paraense passaria a contar com o voto da maioria dos 31 tucanos.

Para o deputado Luiz Carlos Junior (AP), a vitória do grupo do atual líder será parcial. “Será um líder sem liderança. Será uma bancada rachada, com muita gente insatisfeita e falando em sair do partido, não só por esse processo”, afirmou. Para ele, o PSDB perdeu a força e a capacidade de influir no plenário da Câmara e na distribuição de funções, como as comissões.

Aliados de Sampaio disseram que o estatuto nunca chegou a ser votado e, portanto, não teria validade. Destacam ainda que em apenas um nos últimos nove anos a eleição ocorreu na semana anterior ao recesso e que a data de ontem teria sido combinada com o outro grupo. Os protestos só surgiram, disseram, quando os adversários viram que iriam perder a disputa pelo cargo.

Com a estratégia de vencer pelo desempate da idade, o grupo de Doria pretendia tornar públicos seus votos, antes de depositar na urna, para evitar traições no voto secreto. Aliados de Aécio chegaram a cogitar a troca de seu candidato por alguém mais velho, mas desistiram por causa das costuras já feitas por Sabino.

Com o impasse, aliados de Pereira chegaram a sugerir um acordo de revezamento para evitar expor o racha ainda mais. Ele seria o líder de fevereiro a julho e Sabino, de agosto a janeiro. Os aliados de Aécio, contudo, protestam que teriam um cargo esvaziado, já que o Congresso fará bem menos sessões no segundo semestre de 2020 por causa das eleições municipais.

O grupo de Doria resolveu, então, realizar a eleição. O resultado, com apenas 16 votos, sem maioria para nenhum dos lados, levaria à recondução de Sampaio por mais um ano, afirmaram. A deputada Bruna Furlan (SP) decidiu votar em Sabino, o que tornaria a eleição válida – foram 16 votos a 1, com mais de metade da bancada se manifestando. Ela alegou que não queria reconduzir Sampaio para um quarto mandato como líder. Aliados de Sabino, contudo, dizem que vão esperar a Câmara se manifestar e acreditam que o resultado será invalidado.

A disputa pela liderança da bancada mostra, mais uma vez, a dificuldade de Doria de influenciar nos rumos do partido. Ele já acabou derrotado na tentativa de expulsar Aécio da sigla – Sabino foi, na época, o relator do processo e encaminhou o arquivamento – e agora vê surgir, dentro do PSDB, um outro potencial candidato à Presidência, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

O líder na Câmara é responsável por falar em nome da bancada, encaminhar as votações em plenário, escolher os representantes da legenda em cada uma das comissões e negociar em nome do partido, inclusive a indicação (ou veto) de pessoas para o governo e o pagamento das emendas parlamentares.

Valor Econômico