Desempenho do PIB não interfere no ânimo do eleitorado

Análise

O fraco crescimento do PIB de 2012 vem se mostrando objeto de esperança dos grupos políticos, econômicos e midiáticos de oposição ao projeto político que governa o Brasil desde 2003. Mais uma vez.

Em alguma medida, no entanto, fazer essa aposta outra vez chega a espantar. Afinal, não faz muito tempo que foi feita e perdida por quem fez.

Em 2009, às portas do ano eleitoral de 2010, o discurso tucano-midiático era exatamente o mesmo que o de hoje, só que a situação era muito mais grave. 2008 terminara sob a égide da eclosão da crise econômica das hipotecas norte-americanas que, dali em diante, contaminaria o mundo.

O desemprego aumentou consideravelmente entre o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009. A produção e as vendas no comércio praticamente ficaram paralisadas, até que o governo começasse a liderar a reação da economia brasileira investindo pesado.

O ano que precedeu a eleição presidencial de 2010, sob o aspecto do PIB, foi um presente para a oposição. Afinal, em 2009 o Brasil não teve “pibinho”, teve recessão. Isso mesmo, o tamanho da economia brasileira reduziu-se em 0,2% e o nível de emprego, ao fim daquele ano, apenas retornou ao que estava ao fim de 2008, quando a crise internacional explodiu.

Contudo, a partir do segundo semestre de 2009 já se começava a sentir uma reação da economia como a que já se faz sentir agora e que, ao longo do ano eleitoral de 2010, chegaria a experimentar crescimento próximo ao nível chinês, com aumento do PIB de 7,5%.

Diante dos resultados ruins do último trimestre de 2008 e do primeiro semestre de 2009, mídia e oposição duvidaram de que fosse possível uma reação e já davam como favas contadas a derrota do “poste” Dilma – outros viriam – não apenas pelo nível de emprego que sofrera a primeira redução em anos, mas por a candidata à sucessão de Lula nunca ter disputado uma eleição na vida.

O fim dessa história todos conhecemos. Mas o que há para resgatar é a velha discurseira tucano-midiática que se abate sobre o país toda vez que o resultado do PIB não é brilhante, mesmo que indicadores sociais revelem que mais ou menos crescimento não é fator determinante das condições de vida da maioria.

Se tomarmos como exemplo um editorial da mídia oposicionista de março de 2009, encontraremos uma argumentação igualzinha à que tem sido vista nesses veículos nos últimos tempos.

Abaixo, editorial da Folha de São Paulo de 11 de março de 2009.

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FOLHA DE SÃO PAULO

11 de março de 2009

Editorial

Queda vertiginosa

Recuo no PIB reafirma necessidade de ações anticrise, mas arsenal é limitado pelo pendor à gastança dos governos

A HISTÓRIA , mais à frente, irá decerto atenuar a sensação de que uma nova era da economia global se impôs, num chofre, entre setembro e outubro, subvertendo o que prevalecia até o instante imediatamente anterior. Mas é essa a impressão que resta depois da divulgação de estatísticas como a do PIB brasileiro.

A produção de bens e serviços no país crescia num ritmo anualizado de 7% até setembro; entrou em mergulho radical nos três meses seguintes, quando a taxa, se anualizada, resultaria em -13,6%. Não há cenário, previsão, estimativa ou modelo econométrico que parem de pé diante de inversão dessa magnitude. A incerteza sobre o comportamento da atividade econômica, em especial para este ano e o próximo, atingiu proporções ofuscantes.

Os números do IBGE confirmam que veio da indústria o principal vetor de retração no último trimestre de 2008. O volume da produção fabril decresceu 7,4% em relação ao período imediatamente anterior. As decisões de frear fortemente as linhas de montagem foram concomitantes a outras, destinadas a cortar, também brutalmente, as despesas com aquisição de máquinas, equipamentos e construção civil.

Esta classe de gastos, os investimentos produtivos, se expandia numa velocidade “chinesa”: suficiente para duplicar o volume de dispêndios em expansão da capacidade produtiva a cada nove anos. Passou-se no quarto semestre, sem direito a fase intermediária, a uma realidade que lembra a Grande Depressão -os investimentos diminuíram ao ritmo, anualizado, de 33%.

Não se pode, obviamente, tomar a pior fase da crise, até aqui, pelo todo. Dados preliminares acerca dos primeiros dois meses de 2009 mostram que aqueles índices de vertiginosa retração não se repetiram. Em alguns setores, caso da indústria automobilística, há sinais de incipiente recuperação. Nada, contudo, que já possa assegurar crescimento positivo do PIB neste ano.

Tampouco é recomendável desprezar a notável prosperidade verificada entre 2004 e 2008. Na esteira da bonança global, a economia brasileira mais que dobrou seu ritmo de expansão em relação às duas décadas anteriores. Com saldos comerciais expressivos e entrada maciça de capitais, o Brasil pôde, mediante prudente acumulação de poupança em dólares, aumentar a proteção contra crises externas.

Infelizmente, essa linha de prudência não abrangeu os gastos de custeio dos governos -federal, estaduais e municipais-, que dispararam no período. Se o poder público tivesse controlado seu pendor natural à gastança, teria agora um arsenal menos limitado para combater os efeitos deletérios da derrocada global.

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As semelhanças com o presente não são mera coincidência. Era ano pré-eleitoral como este e vínhamos de um fim melancólico do ano anterior, em termos de crescimento e emprego. A única diferença é a de que em março de 2009 as expectativas pareciam menos promissoras do que as de março de 2013.

Todavia, como já havia expectativa de retomada o discurso era exatamente o mesmo de hoje, de relativizar os sinais de aquecimento na economia dizendo, de uma forma ou de outra, que o modelo econômico em curso – baseado no consumo de massas – estaria “esgotado”.

Chega a ser risível dizer que o consumo de massas possa estar perto do patamar de estabilização em um país em que tanta gente ainda não consome mais do que o básico do básico. Mas, enfim, é nisso que a direita midiática acredita – ou quer acreditar.

Enfim, a aposta no ritmo mais fraco da economia se mostra fadada a novo fiasco por duas razões.

Primeira razão: o país deve retomar o crescimento em 2013 e não no ano eleitoral de 2014, enquanto que no penúltimo ano pré-eleitoral não houve retomada e houve até recessão, o que permitiu à oposição brandir a retração de 0,2% de 2009 na campanha de 2010.

Segunda razão: assim como o discurso sobre 2009 não empanou a sensação de bem-estar da população em 2010, em 2014 o “pibinho” de 2012 será história e o de 2013 deve ser no mínimo saudável, segundo já reconhecem mesmo os analistas da oposição.

Por fim, resta dizer que mesmo que a eleição fosse neste ano, com “pibinho” em 2012 e crescimento apenas médio em 2013, dificilmente isso iria interferir na visão que o brasileiro vem mantendo de que o governo impede que a crise chegue a si.

Trecho do Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Política de Renda permite entender melhor a questão.

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Numa sociedade de 10 pessoas, se 1 tem renda 10 e os 9 restantes tem renda 0; ou no extremo oposto, se 10 tem a renda igual a 1; o PIB é o mesmo. O PIB é uma medida de bem-estar social que por construção não se importa com as diferenças entre pessoas, apenas com a soma das riquezas produzidas”.

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Ora, o mesmo estudo mostra que a distribuição da riqueza, seja ela alguns pontos percentuais maior ou menor, é o que importa, pois é o que as pessoas sentem.

Nesse aspecto, segundo o Ipea, durante a última década o Brasil reduziu a desigualdade, fato que não ocorria de forma contínua e não chegava a índices tão baixos desde 1960, quando a série histórica começou a ser construída.

“Este é o menor nível de desigualdade da história documentada, embora o Brasil ainda seja desigual”, enfatizou o Pesquisador do Ipea Marcelo Néri. O Índice Gini, que mede a desigualdade, chegou a 0,527 em 2011 e em 2012 chegou a 0,519 – quanto mais próximo de 0, menos desigual é um país.

Em 2001, o Índice de Gini do Brasil era de 0,61 e, em 1960, era 0,535. Durante a ditadura militar a riqueza se concentrou fortemente, a desigualdade chegou a cair um pouco no início do plano real e depois, ao fim do governo FHC, voltou a subir.

Há anos que este blog vem dizendo que não é o nível do PIB e não é, apenas, o nível de emprego que mantêm o governo bem avaliado pelo eleitorado, mas a distribuição de renda.

Há alguns dias, algumas dezenas de manifestantes foram às ruas protestar contra Lula em São Paulo. Na quase totalidade, eram pessoas favorecidas pela sorte e que não se conformam com um fenômeno que a Era Lula-Dilma inaugurou no Brasil: distribuição de renda.

No imaginário do brasileiro remediado, que hoje é maioria, há uma elite branca e preconceituosa que quer tirar o PT do poder e pôr o PSDB porque é o partido que defende os interesses dos ricos. Até aqui, essa percepção não mudou uma vírgula. E não será “pibinho” que irá operar tal milagre.