Aécio, Cunha, FHC e Gilmar se isolam no golpismo
Na segunda-feira (24), a Folha de São Paulo publicou coluna do jornalista Ricardo Melo sob um título saboroso: “Os três patéticos”. Foi uma alusão à série de humor norte americana “The Three Stooges”, que, no Brasil, ficou conhecida como “Os Três Patetas”.
Para Melo, “Aécio Neves, Gilmar Mendes e Eduardo Cunha atuam como protagonistas de uma causa falida. Mesmo assim, não perdem uma oportunidade de expor em público sua estreiteza de horizontes. São golpistas declarados (…)”.
Apesar de muito bem escrita e cabível, discordo da formação do grupo golpista retratado na coluna; faltou um personagem, Fernando Henrique Cardoso, quem, recentemente, pregou a renúncia de Dilma Rousseff com base em pesquisas de opinião que afirmam que ela seria mal avaliada por 71% dos eleitores.
A desfaçatez de Fernando Henrique Cardoso não é novidade – ele mesmo chegou a ter 65% de rejeição, em seu segundo mandato, e não renunciou por isso. Mas sua declaração pedindo que Dilma renuncie surpreendeu um pouco porque ele vinha se posicionando contra o impeachment e sua declaração de que o governo da adversária política é “ilegítimo” e de que ela deveria renunciar é absolutamente golpista, pois a legitimidade da presidente não se desfaz só por ela supostamente – pesquisa não substitui voto na urna – estar com a popularidade baixa.
Outro personagem que tem se destacado pelo golpismo escancarado é Aécio Neves. Foi sob sua liderança que o PSDB aderiu à tese do impeachment ao ponto de ter feito convocação para o protesto de 16 de agosto, cujo mote era justamente o de interromper o mandato constitucional da presidente da República.
Já Eduardo Cunha dispensa maiores comentários. Tem feito o possível e o impossível para materializar o golpe, ainda que seus motivos não sejam eleitorais como o dos tucanos supracitados e tenham muito mais que ver com jogo de cena; enrolado com a lei, quer trazer para seu lado apoio da parcela da opinião pública que odeia Dilma e, assim, fica espalhando a tese absurda de que ela estaria por trás das denúncias que vem sofrendo.
Quanto a Gilmar Mendes, a celeuma que está encenando em relação às contas de campanha da presidente visa fornecer o instrumento para o golpe se consolidar.
Pode-se dizer, portanto, que esses quatro estão hoje mais para cavaleiros do apocalipse da democracia do que para “três patéticos”, pois de tontos eles não têm nada. São muito espertos e sabem muito bem o que querem.
Entretanto, apesar da força política que esses quatro adquiriram por conta do mau-humor da população com Dilma devido à conjuntura econômica, de alguns dias para cá eles mergulharam fundo no isolamento no que tange ao golpe.
Da imprensa norte-americana à brasileira, passando pela banca e pelo grande empresariado, todos foram pulando fora do golpismo.
Editorial do jornal norte-americano “The New York Times” divulgado no último dia17 afirmou que forçar a saída da presidente Dilma Rousseff do cargo sem “evidência concreta de malfeito traria sérios danos para a democracia” brasileira. De acordo com o jornal , não há benefício em troca da mudança e também não há nada que indique que outro líder político faria trabalho melhor na economia.
Coincidentemente, a mídia brasileira seguiu a trilha do grande irmão do Norte. Em editoriais publicados neste mês, os jornais O Globo e Folha de São Paulo pediram condições de governabilidade para Dilma e chegaram a afirmar que derrubá-la sob pretexto, como tentam fazer os golpistas nominados acima, mancharia a imagem internacional do Brasil, teoria que este Blog vem repetindo sem parar desde o começo do ano.
Pelo lado da banca, Bradesco e Itaú tampouco querem saber de golpe; consideram o impeachment ruim para os negócios. E, pelo lado do empresariado, Fiesp e Firjam foram na mesma linha.
A coisa está tão feia para os golpistas que até os militares de pijama andam se posicionando contra o golpe, como mostrou matéria engraçadíssima do jornal O Dia, recuperada pelo site Viomundo. A matéria relata que os tarados que andam pelas ruas pedindo golpe militar foram pedir ao clube militar um golpe tradicional e levaram uma ducha de água fria.
Claro que não há´um mísero resquício de espírito democrático em todos esses atores. Simplesmente eles entenderam o que este Blog vinha dizendo há muito tempo: está escancarado que os quatro cavaleiros do apocalipse democrático buscam um pretexto para contornar o resultado adverso (para eles) da eleição do ano passado e esse estratagema, além de manchar a imagem do país diante do mundo, levaria a um processo demorado que, enquanto se desenrolasse, causaria prejuízos financeiros incalculáveis para os negócios e também para a população em geral.
Isso significa que o golpe está enterrado? Nem tanto. Gilmar Mendes e Eduardo Cunha têm instrumentos poderosos para atacar a democracia.
Resta saber se esses meros despachantes do capital ousarão desafiá-lo e levar adiante essa aventura. Mas a experiência mostra que Aécio, Cunha, FHC e Gilmar podem até ser meio doidões, mas de bobos eles não têm nada.