Para Bolsonaro, embaixador tem função de “cartão de visitas”
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (18), durante cerimônia que marcou os 200 dias do governo, que o trabalho de um embaixador é ser um “cartão de visitas”.
Ele fez afirmação durante discurso no qual defendeu a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), um dos seus cinco filhos, para embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
Bolsonaro disse que o filho tem proximidade com a família do presidente norte-americano, Donald Trump, e usou o presidente argentino, Mauricio Macri, como exemplo hipotético das facilidades que essa proximidade poderia proporcionar.
“O trabalho de quem é embaixador, um dos mais importantes, é ser cartão de visitas. E eu falei com a imprensa esse dia: imagina se o Macri tivesse um filho embaixador aqui. Uma ligação para mim. Eu atenderia agora ou pediria ao ajudante de ordem para marcar uma data futura? Atenderia agora”, declarou.
Bolsonaro disse que, quando viveu nos Estados Unidos, o filho fritou hambúrguer e entregou pizza como forma de se manter.
“Meu filho Eduardo ia sair do Brasil. Estimulei. Qual pai quer que um filho saia? Presta um concurso, passou para a PF, já falava inglês e espanhol. Enquanto aguardava o recrutamento, ele fez intercâmbio, ficou seis meses nos Estados Unidos. Ele queria que eu pagasse a sua estadia para aperfeiçoar seu inglês. Eu falei não. Primeiro, que para mim pesa. Ele foi para fritar hambúrguer e entregar pizza”, afirmou.
Bolsonaro disse não acreditar que Eduardo Bolsonaro venha a ser reprovado na sabatina de Comissão de Relações Exteriores, uma das etapas exigidas para se confirmar um embaixador.
“Agora, meus senhores, vamos supor num caso hipotético, Davi, eu não acredito nisso, até porque a sabatina vai ser feita com rigor, tenho certeza disso, e ele vai ser aprovado”, declarou.
Reações
Desde que Bolsonaro anunciou a decisão de indicar o filho para a embaixada, políticos, diplomatas e integrantes do meio jurídico têm criticado a medida.
Nesta quarta (17), por exemplo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que não indicaria um filho para o cargo de embaixador, embora tenha dito que Bolsonaro tem esse “direito”.
No meio jurídico, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que o caso configura nepotismo porque, segundo ele, a Constituição afasta a possibilidade de o presidente nomear o filho.
Para o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Carlos Gustavo Poggio, do ponto de vista institucional, a indicação representará a “desmoralização” do Ministério das Relações Exteriores.
“Há diplomatas qualificados para ocupar o posto. Se o presidente não consegue selecionar alguém fora do círculo familiar, há um problema”, afirmou.
Na última terça (16), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que conversou sobre o assunto com Bolsonaro, por telefone. Disse que o presidente o questionou se há “restrição” na Casa em relação à indicação de Eduardo. Segundo Alcolumbre, ele respondeu a Bolsonaro que não cabe aos parlamentares restringir indicações, mas, sim, votá-las.
De G1