Quem você colocaria no lugar de Dilma?
A semana termina com outra pesquisa de opinião mostrando que a aprovação e as intenções de voto da presidente Dilma Rousseff sofreram nova queda. Após os institutos Datafolha e MDA, agora foi o instituto Ibope que não apenas confirmou os números dos outros dois institutos como também mostrou que o percentual dos que reprovam a gestão dela (49%) ultrapassou o dos que aprovam (45%).
Este Blog tem entrevistado especialistas em estatísticas políticas e econômicas a fim de que se possa entender o fenômeno de uma governante que há dois meses batia recordes de popularidade e, de repente, passou a enfrentar uma onda de reprovação como a que tem sido vista.
Nesse contexto, o sociólogo Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox Populi, revelou um fato importantíssimo em entrevista que deu ao Blog no último dia 18: as grandes manifestações de junho, que prosseguiram em julho – com menos ímpeto, mas que prosseguiram –, não deram início à queda de popularidade da presidente da República, mas a aceleraram.
As quedas da aprovação e das intenções de voto de Dilma já se faziam sentir nas pesquisas de fim de maio, começo de junho. Abaixo, gráfico do Datafolha revelando a trajetória descendente.
Duas semanas antes da entrevista de Marcos Coimbra ao Blog, o diretor do Datafolha também falou a este espaço sobre pesquisa recém-divulgada por seu instituto. No dia 4 de julho, Mauro Paulino deu entrevista a esta página em que explicou que, independentemente dos questionamentos à metodologia do Datafolha (que não leva em consideração eleitores das zonas rurais do país), a detecção da queda da presidente ocorrera dentro da mesma metodologia usada pelo instituto anteriormente e, portanto, não havia o que questionar.
Fato: a afirmação de Paulino se mostrou certeira.
As entrevistas que os presidentes de dois dos quatro maiores institutos de pesquisa do país deram ao Blog apontaram para o mesmo fenômeno apontado pela pesquisa que o instituto MDA fez para a Confederação Nacional dos Transportes no dia 16 de julho. O post Pesquisa mostra o pessimismo como causa da queda de Dilma reporta dado que o MDA apurou e que explica a razão pela qual Dilma perdeu tanta popularidade em tão pouco tempo.
Na entrevista ao Blog, Coimbra analisou que a renitência do noticiário negativo da grande mídia sobre a economia, que teve início – com a contundência que se tem visto – a partir de janeiro, terminou por convencer um setor bem maior da sociedade de que o país deve piorar futuramente.
As manifestações de junho e julho, portanto, só fizeram essa percepção se acentuar. Ver tanta gente na rua reclamando furiosamente, depredando, incendiando, agredindo, produzindo cenas de confronto entre si e contra a polícia referendou o noticiário, levando à sensação de que se tantos reclamam é porque o barco deve mesmo estar afundando.
Esse processo de busca pelo entendimento do fenômeno político em curso no Brasil culmina, agora, em entrevista que o ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcio Pochmann também deu ao Blog na última sexta-feira (26).
Se realmente o descontentamento com o que ainda não aconteceu – uma grave crise econômica – estiver por trás da considerável perda de popularidade e de intenções de voto de Dilma ao longo de maio, junho e julho, a entrevista de Pochmann indica que essa situação pode ter vida curta.
Apesar do terrorismo econômico midiático (expressão usada pelo ex-diretor do Ipea), os dados macroeconômicos estão longe de apontar para o desastre. Segundo Pochmann, o Brasil deve fechar o ano com desemprego em patamar similar ao de hoje (ou igual ou um pouco melhor), o país deve crescer mais do que no ano passado e a inflação, como tem sido nos dez anos anteriores, deve ficar dentro da meta do Banco Central.
Ora, se a razão da insatisfação com o governo Dilma decorre de crença de grande parte da sociedade no catastrofismo (ou terrorismo) econômico midiático, se as desgraças que esses órgãos de “imprensa” de oposição não-assumida alardeiam não se materializarem os que se deixaram levar por previsões pessimistas concluirão que embarcaram numa canoa furada.
Claro que a mídia continuará prevendo desgraças, mas como falta muito tempo para a eleição de 2014 a realidade terá que confirmar os vaticínios midiáticos. Não será possível continuar por mais um ano e meio dizendo que a desgraça virá. Se não vier, as pessoas terão que refletir.
No ano que vem a esta hora, estaremos às portas do início da propaganda eleitoral “gratuita” no rádio e na televisão. Naquele momento, as pessoas começarão a refletir sobre como estão as suas vidas e se perguntarão se as desgraças anunciadas se materializaram.
Se o país não tiver mergulhado no desemprego, na hiperinflação, com salários e renda das famílias despencando e a economia em recessão, será inevitável que o eleitor pergunte a si mesmo quem vai colocar no lugar de Dilma e se vale a pena trocar o “técnico” de um time que, então, será impossível negar que estará ganhando.
Como no período eleitoral a presidente terá como falar ao país sem intermediação da mídia, que distorce e até censura seus argumentos enquanto ela, de forma temerária, não usa a sua prerrogativa de convocar pronunciamentos de rádio e TV, naquele momento – com a economia indo bem, com o desemprego baixo e o país crescendo – a sociedade terá que meditar.
Quando todos os lados puderem dizer o que bem entenderem, será simples para a coalização governista lembrar o que o principal adversário de então – que, obviamente, será o PSDB – fez quando ocupou o poder. Se a economia estiver indo bem tanto quanto hoje ou mais – ou seja, se as previsões catastrofistas não se materializarem – será praticamente impossível que o brasileiro troque o certo pelo duvidoso.
Marina Silva, que foi quem mais ganhou com a perda de popularidade de Dilma, será vista em sua real dimensão: uma outsider sem base partidária e sem propostas concretas. Aécio Neves terá que enfrentar o peso de sua trajetória e de pertencer ao PSDB – partido que a maioria sabe que afundou o país quando governou – e Eduardo Campos, se realmente for para a disputa, terá que explicar por que se opõe a um projeto que integrou.
A mídia e a oposição sabem de tudo isso e, assim, apostam em que as manifestações e a perda de popularidade de Dilma piorem a economia. Há, portanto, um processo de sabotagem do país, um legítimo crime de lesa-pátria sendo cometido. Quanto pior, melhor.
Caberá a Dilma e ao PT, pois, entenderem que, mais do que criar factoides para atender ao “clamor das ruas”, cabe cuidar da economia. Mais uma vez, será ela que irá definir quem estará no Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2015. Há que pilotar o Brasil até outubro do ano que vem sem deixar que a sabotagem destro-midiática funcione.
Sim, os agentes econômicos estão assustados e isso preocupa. O Brasil depende de investimentos internos e externos para continuar mantendo o nível de emprego e para que a atividade econômica não despenque. Contudo, apesar de o capital ter o coração de um passarinho, este país é um manancial de lucros para quem souber aproveitar e o capital sabe muito bem disso. Não rasga dinheiro.