Ainda sem apresentar provas, Palocci diz que Lula barrou acordo de leniência ao PT
Em junho de 2016, quando a operação Lava-Jato passava por seu momento mais agudo, com a prisão de empreiteiros como Marcelo Odebrecht, uma proposta chegou ao ex-presidente Lula . O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado federal André Vargas, presos em Curitiba, queriam que o partido confessasse seus pecados.
Em troca, acreditavam que suas penas seriam atenuadas. A sugestão foi debatida em uma reunião secreta entre Lula, o presidente do PT na época, o deputado federal Rui Falcão, e o ex-ministro Antonio Palocci. Quase três anos depois, Palocci contará em um livro que está escrevendo os detalhes da negociação frustrada de um acordo de leniência do PT.
Segundo pessoas que tiveram acesso aos relatos, ele apontou Lula como o responsável por vetar a iniciativa. Contou que defendeu a ideia e disse que o PT não poderia mais sustentar a posição de que as contas da sigla foram aprovadas pela Justiça. Ouviu do chefe que o partido não iria se autoflagelar em praça pública.
Meses depois, preso também em Curitiba, Palocci fez uma nova investida. Pediu a advogados que estudassem se um partido poderia fazer a leniência. Até hoje esse tipo de negociação foi assinada só com empresas. Ele mandou recado a Lula, mas a resposta nunca veio. Logo partiu para própria salvação, sua delação premiada.
Além dessa história, o ex-ministro contará em seu livro como foram os 794 dias que passou atrás das grades. A quem o visita,diz que as três horas de caminhadas, a leitura (mais de 60 livros) e as plantas foram seus antidepressivos.
Quando saiu da cadeia, deixou para trás um pé de maracujá que alcançou o segundo andar do prédio da PF e já tinha distribuído mais de 400 mudas a familiares de outros presos. Além do gosto pela lida de agricultor, Palocci tem dito que reencontrou a medicina, atividade que não exercia desde os anos 80. Brinca que, sem consultório, inaugurou na cadeia uma fila do SUS em que diagnosticou até gravidez.
De dores de cabeça a crises de pânico, o ex-ministro medicava os presos. Por ser médico, era o único autorizado a ter uma pequena farmácia. Um colega contou em tom de brincadeira que as prescrições de Palocci se limitavam a receitar advil de dia e rivotril, à noite.
A amigos confidenciou que o momento mais difícil era quando ouvia de outros presos que queriam tirar a própria vida. Branislav Contic, seu ex-assessor, foi um dos que tentou suicídio. Segundo companheiros de cela, ele acordou algumas vezes numa madrugada, mas não levantou na manhã seguinte, quando todos já estavam de pé. Palocci mediu seu pulso e pressão e pediu que chamassem o SAMU.
Quando a médica autorizada pela PF chegou, mostrou três cartelas de antidepressivos vazias. Brani entrou em coma, mas sobreviveu.
Os melhores momentos relatados por ele eram os domingos, quando o doleiro Alberto Youssef fazia sua macarronada. O ex-ministro se refastelava com o prato e uma mistura à base de suco de uva e vinagre preparada pelo também doleiro Adir Assad.
A necessidade fazia o ex-ministro transformar a mistura em uma espécie de vinho raro em sua imaginação. E, com ela, ele se deliciava até acreditar que estava bêbado.
De O Globo