Antes respeitado mundo afora, Brasil tem rumo disputado entre astrólogo e pastor
Uma desavença entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o pastor Silas Malafaia escancarou nova faísca do governo com o segmento evangélico, e com críticas abertas do líder religioso à importância que a família Bolsonaro, segundo ele, vem dando ao escritor Olavo de Carvalho.
O atrito começou após Malafaia reagir à declaração do parlamentar de que os brasileiros que vivem ilegalmente no exterior preocupam a gestão de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, por serem “uma vergonha” para o país.
“Eu sou exatamente o contrário do que pensa Eduardo Bolsonaro”, rebateu o pastor, um dos primeiros líderes evangélicos de peso a embarcar na candidatura bolsonarista.
“Não tenho vergonha dos brasileiros ilegais que estão em diversas nações poderosas. Não são vagabundos nem pilantras, pelo contrário, são trabalhadores que foram tentar a vida fugindo do desemprego”, tuitou Malafaia no domingo (17).
À Folha o pastor se disse incomodado com a influência que Olavo de Carvalho exerce sobre o filho do presidente. “Que voto Olavo tem aqui no Brasil? Isso é uma afronta, é uma piada.”
Afirmar que aquele tido como guru do bolsonarismo é responsável pela vitória do candidato do PSL na eleição é o que mais enerva o pastor. Sua lógica: evangélicos representam três em cada dez brasileiros, e se alguém tem que levar o mérito pela conquista de Bolsonaro, é o segmento.
Segundo Malafaia, o próprio Bolsonaro lhe disse que, se 80% dos evangélicos o apoiassem, ele triunfaria no pleito. Projeções indicam que ele teve ao menos 70% do voto de seguidores desse fé.
No Twitter, após conversar com a reportagem, o pastor reforçou sua indisposição com o olavismo, tachando de “simplesmente ridículo” o argumento de que o escritor brasileiro radicado na Virginia (EUA) tem protagonismo na ascensão de Bolsonaro.
O pastor continua sua batelada de críticas contra Eduardo, evangélico como ele (já Jair Bolsonaro se declara católico).
Para Malafaia, a fala sobre imigrantes é a “segunda asneira” que o deputado comete em dias. Ele também criticou quando Eduardo afirmou, após a morte de um neto de Lula morrer, que o ex-presidente estaria “posando de coitado” ao pedir para deixar a prisão para acompanhar o enterro.
Malafaia tuitou, então, disse que lhe faltava compaixão e que Eduardo “perdeu uma ótima oportunidade de ficar de boca fechada”, pois “o sábio Salomão já dizia que até o tolo, quando se cala, se passa por sábio”.
O filho do presidente usou o Twitter para responder o pastor: “Se o senhor parasse de se informar pela extrema imprensa também ajudaria. Já trabalhei meses nos EUA lavando pratos com mexicanos e peruanos, numa cozinha cercada de neve no Maine e no Colorado. Sei como é. Mas te entendo, também ficaria bravo se alguém generalizasse os brasileiros no exterior”.
Uma resposta que, para Malafaia, não fez muito sentido, já que o parlamentar, afirma, estaria assumindo que o que fez —tratar todo brasileiro vivendo fora de forma genérica— foi errado.
Nas últimas semanas, a bancada evangélica no Congresso deu sinais de insatisfação com o atual governo.
Na semana passada, a coluna Painel, da Folha, informou que a frente, um dos braços fortes de Bolsonaro na campanha presidencial, ensaiou protesto público contra o inquilino do Planalto, que estaria se distanciando de compromissos firmados com os religiosos, na visão deles. O pano de fundo é a demissão de quadros ligados à frente religiosa sem prévia comunicação.
Também incomoda o sentimento de que estão sendo enrolados sobre uma demanda cara à bancada: a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, uma promessa eleitoral ainda não —cumprida e sem sinais concretos de que será algum dia.
Da FSP