Bolsonaro é convidado a conhecer os “Arquivos do Terror”, coleção de documentos que mostram a crueldade de Stroessner no Paraguai
O ativista de direitos humanos paraguaio Martín Almada convidou nesta quinta-feira o presidente Jair Bolsonaro a passar uma noite nos chamados Arquivos do Terror, a coleção de documentos oficiais que mostram a repressão policial durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989) no Paraguai.
O descobridor dos arquivos enviou pelo correio este convite a Bolsonaro, em resposta às declarações do presidente do último dia 26 de fevereiro, nas quais elogiou o ditador paraguaio, a quem qualificou como “um estadista” que sabia perfeitamente o que queria para o país.
A coleção, que conta com 65.000 documentos em papel, 546 arquivos de áudio e 20.000 fotografias, está exposta no térreo do Palácio de Justiça do Paraguai, onde qualquer cidadão pode conhecer os métodos de repressão do regime.
Almada afirmou que Bolsonaro deveria passar uma noite junto aos documentos para reviver os pesadelos e “lembranças envenenadas” das mais de “100.000 vítimas mortais” das ditaduras sul-americanas.
“Como vítima da Operação Condor, me horroriza escutar Bolsonaro falar bem de Stroessner”, disse à Agência Efe Almada, de 82 anos, que foi preso e torturado pelo regime paraguaio entre 1974 e 1977.
O ativista lamentou que “nenhum militar paraguaio nem brasileiro tenha sido processado” pelo seu envolvimento nos crimes mostrados nos arquivos, ao contrário do que ocorreu em outros países, como a Argentina.
Os documentos, que foram revelados em 1992, provaram a existência da Operação Condor, coordenada pelos Estados Unidos para perseguir os opositores das ditaduras do Cone Sul da América, entre 1970 e 1980.
Para Almada, Bolsonaro deveria conhecer esses documentos, já que demonstram desaparições e assassinatos que foram realizados contra “diplomatas brasileiros” durante o mandato do presidente João Figueiredo (1979-1985).
Almada lamentou que em uma “época de democracia e direitos humanos” ainda haja pessoas como Bolsonaro que vão na “contramão” dos movimentos sociais.
“Senhor presidente, não se pode cometer atrocidades e depois pretender viver em paz na democracia e esconder o passado. Isso se chama impunidade”, escreveu Almada a Bolsonaro.
Da Exame