Dizer que Sarkozy e Lula falaram de propina em conversa direta é piada

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Leia a coluna de Reinaldo Azevedo,  jornalista político brasileiro.

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Palocci: papo de que Sarkozy e Lula falaram de propina tête-à-tête é piada

Não há muita coisa a dizer sobre o mais novo capítulo da delação de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda do primeiro governo Lula e ex-ministro do Planejamento do primeiro governo Dilma. Nos dois casos, caiu porque seu padrão de conduta pareceu heterodoxo até aos petistas.

A mais nova bomba de traque deste gigante moral assegura que o então presidente Lula negociou propina diretamente com Nicolás Sarkozy, que presidia a França, num acordo para a compra de helicópteros e para a construção de submarinos nucleares — acordos que foram acompanhados de perto pelas respectivas cúpulas das Forças Armadas interessadas. Teria sido ali, tudo no “tête-à-tête.

Vamos lá. Todos sabem que eu não sou um fã ardoroso dos métodos empregados pelo Ministério Público Federal, não é mesmo? Acho que há abusos de várias naturezas na forma como atua para obter delações. O órgão rejeitou um entendimento do Palocci porque lhe pareceu que ele estava interessado apenas em livrar o próprio pescoço. E aí partiu para o vale-tudo.

Das pessoas dotadas de um mínimo de bom senso a especialistas em sacanagem, vamos convir: todos riem de escárnio da acusação desse gigante, que celebrou acordo de delação com a PF.

Vocês acham mesmo que os respectivos presidentes de duas grandes democracias, uma delas entre os cinco países mais ricos do mundo, combinam propina, quando combinam, em conversa direta? Isso está mais para a piada.

Há até uma questão prática: Lula não fala francês; Sarkozy não fala português. Imaginem os dois tratando de sacanagem com a presença de pelo menos duas testemunhas — sim, em conversas assim, cada um tem o seu para evitar erros, digamos, interessados…

Ah, sim: Lula, de fato, queria comprar os caças Rafalle, dos franceses. Chegou até a anunciar isso na viagem de Sarkozy ao Brasil. A escolha da Aeronáutica foi pelo sueco Gripen. E aí o ex-presidente é acusado de ter negociado vantagens também nesse caso, naquela que é, creio, a mais ridícula de todas as denúncias contra o petista.

Palocci é apenas alguém interessado em salvar o próprio pescoço e acha que Lula ainda tem ombros largos o bastante para o que lhe der na telha. Mas parece que perdeu até o sentido da verossimilhança.

Do UOL