Fala de Bolsonaro nos EUA contou com Deus, PT, mercado e piada com homofobia

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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) fez ontem sua primeira fala pública em Washington desde que chegou aos Estados Unidos para uma visita de três dias. Para além dos afagos aos norte-americanos e da declaração de interesse em fazer parcerias com o país, o presidente revisitou temas que o acompanharam durante discursos eleitorais, como valores conservadores e críticas a governos petistas.

Segundo Bolsonaro, ao contrário do que supostamente acontecia nos últimos anos, a economia do Brasil agora está aberta a negociações com todos os países, em especial os Estados Unidos.

O presidente participou do “Brazil Day in Washington” na Câmara de Comércio norte-americana. O evento foi patrocinado por empresas privadas multinacionais, e sua plateia era formada majoritariamente por investidores e empresários estrangeiros.

Na chegada ao salão – decorado com luzes em verde e amarelo -, Bolsonaro foi aplaudido de pé pelos presentes, que em grande parte sacaram o celular do bolso para registrar o momento. Além de discursar, ele assinou o acordo de salvaguarda tecnológica que permitirá o lançamento de satélites com componentes americanos na Base de Alcântara e outros dois atos.

Bolsonaro falou de improviso, sem um teleprompter – equipamento transparente que roda o discurso escrito a palestrantes. No Fórum Econômico Mundial, na Suíça, e em algumas cerimônias no Palácio do Planalto, ele chegou a se utilizar do recurso, mas foi criticado por não ler as palavras com naturalidade.

Veja abaixo os temas tratados por Bolsonaro em pouco mais de 10 minutos de discurso:

Bolsonaro iniciou a fala agradecendo os ministros presentes e falando da importância de cada um. Alguns inclusive do ponto de vista pessoal, como o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) – a quem disse confiar para lhe dar um norte em tempos difíceis.

Em seguida, afirmou que a “grande transformação do Brasil vem pelas mãos de Deus” e que o povo brasileiro é muito parecido com o americano: “conservador” e “cristão”. O tópico de valores morais e políticos guiou grande parte do discurso.

Bolsonaro ainda disse ter sido um “milagre das eleições”, pois sofreu com supostos “ataques da mídia” durante pelo menos dois anos antes das eleições, teve pouco tempo de TV e dinheiro e só se associou a um partido a meses do primeiro turno. Nesse momento, alegou sofrer com as fake news antes do colega americano Donald Trump, conhecido por ter popularizado a expressão.

Para Bolsonaro, a população no Brasil não aguentava mais o crescimento da esquerda na política e viu a crise política e econômica na Venezuela como um exemplo negativo do que poderia acontecer se fossem eleitos novamente. A partir de então, ele iniciou uma série de críticas aos governos petistas.

“O povo cansou-se da velha política, cansou-se daquela política do toma lá, dá cá, das negociações. E do péssimo exemplo dos governos do PT materializados nas pessoas de Lula e Dilma Rousseff. Governos que, antes de tudo, eram antiamericanos”, disse.

Apesar de ter falado sobre um antiamericanismo dos ex-presidentes petistas, ambos também fizeram visitas oficiais aos Estados Unidos enquanto chefes de Estado. Numa relação relativamente próxima, anterior à crise econômica e aos escândalos de corrupção, o ex-presidente americano Barack Obama chegou a chamar Luiz Inácio Lula da Silva de “o cara”.

Bolsonaro citou a questão econômica quase que somente na metade do discurso ao ressaltar que o Brasil tem potencial enorme e bons parceiros pelo mundo, mas os Estados Unidos podem ser especiais.

“Mas, acredito de forma especial, estou aqui estendendo minhas mãos e tenho certeza de que Trump fará o mesmo amanhã para que essa parceria se faça cada vez mais presente em nosso meio”, disse.

“Como disse há pouco, o povo americano, os Estados Unidos, sempre foi inspirador para mim e grande parte das decisões que tomei. Essa vinda aqui hoje e amanhã, com toda certeza, estaremos materializando o que nós queremos”, comentou, depois dizendo acreditar que amanhã terá um grande encontro com Donald Trump.

Segundo Bolsonaro, o governo quer assinar mais acordos com o país nas variadas áreas, como a mineralogia e a agricultura, citando haver muito a ser descoberto na Amazônia.

O presidente aproveitou a oportunidade para se declarar admirador do ex-presidente americano Ronald Reagan por dizer que “o povo é quem tem de conduzir o Estado, e não o contrário”. Depois, falou que quando conheceu o ministro da Economia, Paulo Guedes, também fã de Reagan, há pouco mais de um ano, foi “basicamente um amor à primeira vista”.

“Na questão econômica, obviamente”, completou, arrancando risos da plateia. Quase que de imediato, declarou “não sou homofóbico não”, rindo.

Bolsonaro voltou a falar que é preciso “dar graças a Deus pela mudança da ideologia” no país e afirmou querer um Brasil grande, assim como os americanos querem um Estados Unidos grande, em referência ao slogan de Trump “Make America great again”.

O presidente declarou acreditar “na família, em Deus”, se disse ser “contra o politicamente correto” e afirmou não querer a “ideologia de gênero”, valores e expressões que o ajudaram a se eleger em 2018.

Jair Bolsonaro lembrou que a crise na Venezuela é um dos temas a ser tratado por ele no encontro com Donald Trump. Brasil e Estados Unidos já reconheceram o presidente autodeclarado Juan Guaidó como interino do país, no lugar do ditador Nicolás Maduro.

“Temos que resolver a questão da nossa Venezuela”, declarou o presidente. “A Venezuela não pode continuar da maneira como se encontra. Aquele povo tem que ser libertado e contamos com o apoio dos EUA para que esse objetivo seja alcançado.”

Do UOL