Honestino e Edson Luiz: mortos aos 17 anos pela ditadura militar
O dia 28 de março marca a trajetória de dois jovens estudantes, Honestino Monteiro Guimarães, que completaria 72 anos neste 28 de março de 2019, e Edson Luiz Lima Souto, morto aos 17 anos, nessa mesma data no ano de 1968.
“É verdade e verdade é coisa inquieta que mexe com a gente.” Com essa frase, uma das principais lideranças estudantis do país, Honestino Guimarães, expressou em carta à mãe sua inspiração por justiça social. Nascido na cidade de Itaberaí (GO), em 28 de março de 1947, Honestino, ainda na infância, mudou-se com sua família para a nova capital, do país. Na esperança de novos horizontes e melhores oportunidades, os pais de Honestino, Benedito e Maria Rosa, viram em Brasília o futuro.
Gui, como Honestino era chamado por familiares e amigos, era o mais velho dos filhos do casal. Desde cedo demonstrou seu interesse pelos livros e a política, contudo, a mudança para a capital catalisou suas energias para a resistência política. Ainda estudante secundarista começou a militar no movimento Ação Popular (AP), ligado à juventude católica. Quando de seu ingresso na Universidade de Brasília (UnB), aos 17 anos, rapidamente assumiu papel de liderança estudantil.
Dali em diante, Gui não pode mais dar continuidade a sua vida universitária normalmente, pois foi perseguido e preso diversas vezes em Brasília, sendo o episódio mais emblemático a violenta invasão das forças de segurança ao ‘campus’ da UnB, em agosto de 1968. No mesmo período, Honestino foi expulso da universidade e passou a viver na clandestinidade. Ao lado de sua companheira viveram as dificuldades do nascimento da filha em meio a essa vida de sigilo e militância, com a eleição de Gui à presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) e, anos mais tardes, uma nova prisão.
Honestino foi levado por agentes do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), em outubro de 1973, e nunca mais visto. Assim, a ditadura militar silenciava mais um estudante, mais uma voz de um movimento que teve papel central na resistência às arbitrariedades e a violência do período.
O estudante Edson Luiz foi uma das mais jovens vítima assinadas pela da repressão aos estudantes. Também em 28 de março, do fatídico ano de 1968, Edson Luiz, com apenas 17 anos, foi alvejado por agentes de segurança durante manifestação por melhorias no restaurante que atendia estudantes, conhecido como Calabouço.
Por temerem que o corpo de Edson fosse levado pelos policiais e desaparecessem com ele, os demais estudantes o carregaram, primeiro para a Santa Casa de Misericórdia e, posteriormente, à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde o jovem foi velado, mobilizando milhares de pessoas. A Polícia Militar tentou, mais uma vez, reprimir as ações na ALERJ, porém a comoção e a divulgação dos fatos fizeram com que a multidão resistisse à violência.
Edson Luiz foi sepultado no dia seguinte em um ato em que milhares de pessoas entoavam em protesto: “Mataram um estudante, podia ser seu filho!” e “Os velhos no poder, os jovens no caixão!”.
A ditadura militar desde seu início compreendeu a importância das escolas, das universidades e dos centros de ensino pelo país, de forma que se preocupou em vigiar e censurar, além de eleger os estudantes como alvo privilegiado de repressão sistemática. Honestino Guimarães e Edson Luiz são exemplos da violência instaurada contra o movimento estudantil, que resultou em inúmeros jovens mortos e desaparecidos políticos, os quais devem ser lembrados pela luta por dias melhores.
“Para que não se esqueça, para que não se repita”.
Fontes: Relatório Final da CNV, Livro DMV/CEMDP e “Paixão de Honestino”, Betty Almeida.
Colaboração Caio Cateb
P.S. – Em nome das atrocidades que temos publicado diariamente, será realizada em São Paulo, no Ibirapuera, no dia 31.03.2019 (domingo), a I Caminhada do Silêncio pelas vítimas de violência do Estado. Concentração na Praça da Paz (Portão 7), às 16:00 horas.