O que já se sabe até aqui sobre os suspeitos de matar Marielle e Anderson
O sargento reformado Ronnie Lessa, 48, e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, 46, foram presos na manhã desta terça-feira (12), suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes, no ano passado.
Lessa foi preso em sua casa de alto padrão na Barra da Tijuca, em um condomínio de frente para o mar. O condomínio é o mesmo onde mora o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A casa na Barra é apenas um dos imóveis de luxo de Lessa. Ele tem também uma casa em Angra.
O sargento foi reformado da PM depois de ser vítima de um atentado a bomba, no qual perdeu parte da perna. Segundo reportagem d’O Globo, ele é um exímio atirador e tem envolvimento com a contravenção no Rio.
Segundo a polícia, Lessa é o atirador. Ele usou uma submetralhadora alemã, de uso exclusivo da polícia no Brasil. Elcio Queiroz, amigo e compadre de Lessa, foi o motorista do carro, um Cobalt clonado, que, no dia da morte, foi flagrado vigiando e antecipando os passos de Marielle.
Na denúncia apresentada hoje, o Ministério Público afirma que o motivo do crime foi a atuação política de Marielle e as causas que ela defendia, mas não apresenta nenhuma informação adicional.
A promotora pública Letícia Emile Petriz, uma das responsáveis pelo caso, afirma que não há provas contundentes de que Lessa tenha envolvimento com milícia, mas que essa linha de investigação sobre um suposto vínculo com a “criminalidade violenta permanece”.
A coordenadora do Gaeco-RJ Simone Sibilio informou que teve de antecipar a ação da polícia porque a investigação VAZOU e os investigados foram avisados e poderiam fugir.
De acordo com a polícia, o assassinato demonstrou alto grau de sofisticação. Três meses de campana, uso de celulares de laranjas, conhecimento prévio das atividades de Marielle e conhecimento do local onde ocorreria a emboscada.
Os nomes de 28 pessoas são mantidos sob sigilo na denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio.
Se a Justiça acolher a denúncia, Lessa e Elcio Queiroz vão responder pelo homicídio de Marielle e Anderson e pela tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que estava no carro e sobreviveu.
O que ainda falta ser respondido:
– Quem foi o mandante dos assassinatos?
O delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios do Rio, disse que a prisão dos dois suspeitos de matar Marielle e Anderson foi apenas a primeira etapa do inquérito. A investigação sobre possíveis mandantes ainda está em curso. O governador do Rio, Wilson Witzel, disse que os detidos hoje “poderão pensar em uma delação premiada” que leve a algum mandante.
“É possível que o crime tenha mandante? É possível. É possível que não tenha mandante? Também é possível”, disse Simone Sibílio, coordenadora do GAECO/MP-RJ. Isso só será esclarecido com o prosseguimento das investigações.
– Qual foi a motivação do assassinato de Marielle?
De acordo com Simone Sibílio, coordenadora do GAECO/MP-RJ, a motivação de Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos, foi torpe — decorrente de “uma repulsa de Ronnie Lessa a uma atuação política de Marielle” na defesa de “causas voltadas para minorias”.
– Ainda há informações sob sigilo?
Sim. Simone Sibílio, coordenadora do GAECO/MP-RJ, disse que ainda há informações que serão mantidas sob sigilo para não prejudicar o prosseguimento da investigação, que pode apontar o envolvimento de outras pessoas no crime e a existência de eventuais mandantes.
– Qual era o “complô” citado pelo então ministro Raul Jungmann?
Em novembro do ano passado, Raul Jungmann, então ministro da Segurança Pública, disse que havia um “complô” retardando a investigação sobre os executores e os mandantes do crime. “Existem interesses que envolvem agentes públicos, milícias, políticos, que não querem e impedem que se chega aos mandantes, sobretudo, poderosos mandantes, e também aos executores”, disse Jungmann.
– E quanto aos outros nomes que haviam sido apontados como possíveis mandantes?
Uma testemunha havia apontado o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, e o vereador Marcello Siciliano (PHS) como mandantes do crime, o que os dois sempre negaram. O delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios do Rio, e Simone Sibílio, coordenadora do GAECO/MP-RJ, disseram hoje que as investigações sobre a possíveis mandantes é a próxima etapa do inquérito.