Olavo de Carvalho e Bannon, as duas estrelas das campanhas de direita
Noites tórridas na capital americana. Às vésperas do evento mais importante da presidência Bolsonaro, os ideólogos da ascensão do etno-nacionalista nas Américas se reuniram para celebrar uma nova era e, talvez, a reabilitação de Steve Bannon.
Verdadeiro Forrest Gump da direita populista, Bannon fez fortuna negociando os direitos da célebre comédia Seinfeld, iniciou-se ao nacionalismo na Marinha, criou ódio pelo globalismo trabalhando na Goldman Sachs, e aprendeu a manejar a arte das fake news espalhando balelas no Breitbart.
Ganhou fama internacional durante as eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, quando articulou o discurso protecionista e xenófobo que ajudou Donald Trump a conquistar o eleitorado subempregado dos polos pós-industriais e derrotar Hillary Clinton.
Bannon e o seu camarada brasileiro, Olavo de Carvalho, têm muito que conversar. Afinal, as estrelas das campanhas estão desapontadas com os seus respectivos homens de palha.
Tratado como um adolescente em fase de puberdade agravada pelos militares americanos, Bannon foi convidado a abandonar, meses depois da posse, o cargo de guru da Casa Branca que tinha exigido a Donald Trump.
Depois de criticá-lo publicamente por ceder à pressão dos militares, Bannon acabou marginalizado por Trump. Desde então ele vem perdendo a sua aura, a ponto de ser mantido a distância pela
direita populista europeia.
Os dois alunos que Olavo de Carvalho emplacou no governo de Jair Bolsonaro também já viveram dias melhores.
Ernesto Araújo só continua sendo chanceler na cabeça dos seus seguidores nas redes sociais, enquanto
Ricardo Vélez sequer chegou a aterrissar em Brasília.
Tal como Bannon, Olavo de Carvalho enfrenta a resistência do aparato militar-burocrático do Estado, sempre avesso à intervenção de iluminados.
Infelizmente, uma polêmica contaminou o clima de festa.
O autor do atentado de extrema-direita contra 50 muçulmanos numa mesquita em Christchurch, na Nova Zelândia, deixou um manifesto intitulado “A Grande Substituição”, uma referência explicita à obra do ensaísta francês de extrema-direita Renaud Camus.
Popularizada na França pelo comentarista Eric Zémmour e elevada a mito literário por Michel Houllebecq, a teoria conspiratória da iminência de uma invasão muçulmana na Europa serviu de inspiração para a suspensão da entrada de muçulmanos nos EUA, única medida de relevo emplacada por Bannon durante a sua passagem-relâmpago pela administração Trump.
Apesar do Brasil ser um exemplo de integração da comunidade muçulmana, a direita populista nunca hesita em recuperar essa teoria anti-islâmica para atiçar a fantasia das suas bases.
Logo depois de empossado, o presidente Bolsonaro compartilhou um vídeo de um apedrejamento de uma mulher vestida em trajes muçulmanos, alertando para a ameaça dessa cultura “invadir o Ocidente”.
A azarada Christchurch estava no caminho do viajante-terrorista, mas poderia ter sido qualquer outra cidade, em qualquer outro país do mundo.
Quem importa o ódio, pode muito bem acabar importando a violência.
Da FSP