Pedro e Paulo: dois jovens da Guerrilha do Araguaia que desapareceram na ditadura militar
Em 19 de março de 1947, Pedro Alexandrino de Oliveira Filho nascia na mineira Belo Horizonte. Único filho homem entre três irmãs, perdeu o pai ainda muito jovem, no ano de 1960. Iniciou cedo sua vida de trabalhador no Banco Hipotecário do Estado de Minas Gerais, com apenas 15 anos. Em 1967 deixou a cidade natal por transferência para a capital paulista.
Lá finalizou seus estudos e envolveu-se com o movimento estudantil. Em novembro de 1969, após retornar para BH, foi preso quando estava na casa de uma de suas irmãs, tendo sido torturado na frente de suas sobrinhas, ainda crianças. Foi liberado por não haver evidências que o incriminassem.
No natal daquele ano, passou a última ocasião em seio familiar e nunca mais voltou. Passou a viver na clandestinidade, tendo ido para a região de Gameleira em 1970 para integrar-se à Guerrilha do Araguaia do PCdoB junto a sua companheira Luiza Augusta Garlippe, a Tuca.
Na mesma BH viveu Paulinho, Paulo Roberto Pereira Marques, nascido dois anos depois, em 14 de maio de 1949, em Pains (MG). Era o primeiro filho de Dona Maria Leonor, seguido por mais quatro irmãos, três meninas e um menino. Capricho do destino ou apenas coincidência, Paulo também perdeu o pai cedo e teve que se dedicar ao trabalho como bancário, no Banco de Minas Gerais, e também se envolveu com política, principalmente durante a greve dos bancários de 1968, quando tinha 18 anos.
Foi perseguido quando ainda residia em sua cidade natal, tendo passado a viver na Bahia e no Rio de Janeiro clandestinamente. Posteriormente, ainda em 1969, seguiu para a região da Palestina e montou uma farmácia junto a outro guerrilheiro, Ciro Salazar Oliveira, onde ofereciam medicamentos gratuitos e atendimento de saúde à população.
Assim como ocorreu com a maioria dos jovens que aderiram à Guerrilha do Araguaia e que migraram de suas cidades de origem para a humilde região camponesa do sul paraense e norte do, então Goiás, hoje Tocantins, Pedro e Paulo estavam sob a mira da repressão da ditadura militar. Na localidade adotaram codinomes: Pedro era Peri e Paulo era Amauri. Ambos pertenceram ao Destacamento B da guerrilha e embora não haja muitas notícias sobre o dia-a-dia deste grupo que viveu até 1974 na região – no caso dos últimos sobreviventes – é possível inferir que os dois se conheceram.
Entre os anos de 1972 a 1974 a ditadura militar focou seus esforços para combater a guerrilha constituída. O saldo do massacre, segundo números da CNV, soma 70 vítimas entre mortos e desaparecidos políticos. Paulo e Pedro figuram, ainda, como desaparecidos a despeito dos esforços de suas famílias para localizá-los – e apesar da condenação nesse sentido ao Estado Brasileiro pela Justiça nacional e também pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Diana Maria Piló Alexandrino, mãe de Pedro, chegou, primeiramente, a recusar a indenização garantida por lei, a 9.140/95, solicitando ao Estado a verdade sobre o que ocorreu com o filho: “- onde está?” Maria Leonor Pereira Marques, mãe de Paulo, viu seu filho pela última vez quando este tinha 19 anos e só soube sobre ‘o Araguaia’ quando a ditadura acabou.
Pedro e Paulo, Peri e Amauri, talvez não desconfiassem que isso ocorreria no futuro, mas suas famílias se encontraram em algumas ocasiões. Eles que compartilharam tanto em comum, compartilhavam também de um seio familiar aguerrido na busca pelo paradeiro desses. As mães de ambos, hoje muito idosas, ainda têm esperança de rever seus filhos, e seus irmãos herdaram destas mães a função de seguir em busca de respostas.
Por essas famílias e por milhares de outras famílias brasileiras afetadas pela violência e pela dor do desaparecimento de um ente querido, será realizada em São Paulo, no Ibirapuera, no dia 31.03.2019 (domingo), a I Caminhada do Silêncio pelas vítimas de violência do Estado. Concentração na Praça da Paz (Portão 7), às 16:00 horas.
“Para que não se esqueça. Para que não se repita”.