Tatuagem levou à identificação de um dos acusados de matar Marielle e Anderson
A análise de imagens do Cobalt prata que levava os atiradores foi decisiva na identificação dos acusados de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Por meio do uso de raios infravermelhos, integrantes do laboratório de imagens do Ministério Público do Rio (MP) perceberam a presença de uma imensa tatuagem no braço direito de um dos homens no carro, posteriormente identificado como o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa.
A tatuagem retrata uma espécie de guerreiro, cujo corpo começa pelas costas, estendendo-se até os braços do PM. Apesar de vestir uma luva preta cobrindo a marca, o pistoleiro deixou-a à mostra num momento de “relaxamento”, quando ele recosta o braço no banco traseiro do Cobalt ainda estava estacionado, na Rua dos Inválidos.
Com duração de uma fração de segundo, o gesto foi filmado por uma câmera da região. A partir da localização da imagem pelo núcleo da Coordenadoria de Segurança e Inteligência do MP, coube à Polícia Civil descobrir mais fotos e vídeos que mostrassem detalhes da tatuagem do suspeito e dele atirando.
A equipe do titular da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital Giniton Lages conseguiu fotos de Lessa num hospital, após sofrer um assalto em 27 de abril do ano passado. Um homem de motocicleta teria abordado o carro onde estavam o PM reformado e um amigo bombeiro na Barra, mas os dois reagiram e balearam o criminoso, que fugiu ferido.
O ataque ocorreu pouco mais de um mês do assassinato de Marielle e Anderson. Na coletiva, Giniton garantiu que as investigações comprovaram se tratar de um assalto.
Além das imagens de Lessa hospitalizado, também foram analisados pela polícia conteúdos extraídos da “nuvem” do celular do PM reformado. Entre eles, fotos de uma luva e um manguito, ambos na cor preta, vestindo um braço esquerdo de um homem.
Os investigadores, com base em outras imagens do suspeito, tiveram a certeza de que o braço era do policial militar reformado. Também foram encontradas fotos dele segurando um fuzil e, uma outra, que mostra Lessa alimentando um dos seus dois gatos de estimação, numa sala de jantar semelhante à da casa onde mora, no Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca.
Na “nuvem” do PM, foi localizado um vídeo considerado crucial na investigação para detalhar qual a posição que ele costuma atirar. Foi possível constatar que, ao atirar de armas longas como fuzis, Lessa apoia o braço esquerdo. De acordo com a posição dos disparos contra a vereadora e seu motorista, o criminoso, por estar no banco traseiro do Cobalt prata, atira com o braço direito e apoia, na janela do carro, o esquerdo, que acaba por ficar exposto.
A investigação vai além, quando confronta as fotos com o depoimento da única testemunha – revelada pelo GLOBO no dia 1 de abril – que assistiu à ação dos criminosos ao matarem Marielle e Anderson.
Ela contou que, ao atirar contra as vítimas, o autor usava touca ninja, tinha o braço forte e era negro. Na verdade, para não ser reconhecido, o atirador vestiu a luva preta. No entanto, com o uso da tecnologia, foi possível enxergar através do vestuário. Até a pigmentação do braço foi notada.
De acordo com a polícia, a emboscada à Marielle teve início às 17h24, quando o carro foi visto saindo do Quebra Mar, na Barra da Tijuca. Os suspeitos, Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, teriam saído do local, no Cobalt com vidros escurecidos em último nível, sem serem flagrados em nenhum momento fora do carro.
Segundo a DH e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do MP do Rio, os assassinos ficaram dentro do veículo por mais de três horas até o momento da emboscada.
De O Globo