Mandato do vereador Camilo Cristófaro é cassado e Thammy Miranda deve ficar com o posto
A Câmara de São Paulo cumpriu decisão da Justiça Eleitoral nesta quarta-feira (20) e determinou a cassação do mandato do vereador Camilo Cristófaro (PSB). Em junho de 2018 ele teve o mandato cassado após ser denunciado por fraude eleitoral na captação de recursos de campanha, mas vinha recorrendo.
Na terça-feira (19), a Câmara recebeu ofício do Tribunal Regional Eleitoral informando que o recurso de Cristófaro havia sido negado e que o efeito suspensivo da decisão estava terminado. Sendo assim, a cassação deveria ser cumprida. A procuradoria da Casa, então, deu parecer favorável à expulsão do vereador.
A Mesa Diretora da Câmara leu a decisão da Justiça nesta quarta-feira (20), confirmando a extinção do mandato. A Folha procurou Cristófaro por meio de ligações e de mensagens para comentar o ocorrido, mas não teve retorno.
O vereador Thammy Miranda, 36, que se candidatou pelo PP e é filho da cantora Gretchen, deve ocupar o posto que ficará vago com a saída de Cristófaro.
À época de sua filiação ao PP, em 2015, Thammy, que é transexual, recebeu críticas de representantes de diferentes grupos que defendem causas LGBT por ter escolhido participar das eleições pelo partido que à época abrigava Jair Bolsonaro, que acabou lançando-se à presidência pelo PSL.
“Em um governo tão conservador venho eu assumir como vereador. Acho que Deus quer dizer algo com isso”, disse Thammy à Folha em janeiro, quando a cassação de Camilo já se desenhava.
De acordo com o Ministério Público Eleitoral, recursos utilizados na campanha de Cristófaro tiveram origem ilícita. Investigação feita pela Justiça eleitoral constatou que R$ 6 mil que foram repassados por uma idosa de mais de 80 anos, moradora de Jundiaí, que não teria recursos para fazer tal doação.
Ana Maria Camparini estaria desempregada, doente e na fila casa própria, e teria doado dinheiro para outros candidatos além de Camilo, como o prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Júnior (PSDB), que teria recebido dela R$ 293 mil para sua campanha, segundo a procuradoria.
Recentemente, Cristófaro protagonizou rusgas públicas com o governador eleito João Doria (PSDB). Durante o período eleitoral, o vereador, do mesmo partido do governador e então concorrente de Doria Márcio França (PSB), criticou duramente o tucano devido a vídeos que circulavam em redes sociais em que ele supostamente aparece em uma orgia. Doria sempre negou a autenticidade dos vídeos.
Em debates na TV com França, Doria referiu-se a Cristófaro ao dizer que um vereador do partido de França tentava tirar proveito eleitoral de vídeos supostamente falsos.
Em sua passagem pela Câmara, o vereador acumulou polêmicas. Em março de 2017, a então vereadora suplente Isa Penna (PSOL), eleita deputada estadual recentemente, relatou ter sido empurrada e xingada por Cristófaro.
Segundo Isa, ele a xingou de “vagabunda”, “terrorista”, “cocô de galinha” e insinuou ameaças dizendo que ela não deveria ficar surpresa se “tomar uns tapas na rua”.
Em seguida, já fora do elevador, Cristófaro se aproximou da colega de plenário e lhe deu “um empurrão de leve”, de acordo com ela. Ela diz que há imagens de uma câmera que mostram o momento. O vereador nega e diz que não ofendeu ninguém.
Três meses depois, Camilo deu um tapa em um assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT), arremessando o celular do rapaz que filmava um protesto à porta de seu gabinete.
“É um petista que gosta de confusão, mas pegou a pessoa errada, na hora errada. Ou seja, comigo a verdade é o que vale. Ele agrediu uma moça de 28 anos, ele machucou o punho dela”, disse Cristófaro na ocasião.
Em novembro de 2017, Camilo entregou R$ 3.000 a um assessor político da secretaria de Transportes da gestão Doria, que foi afastado do cargo e motivou a abertura de uma investigação pela Controladoria Geral do Município.
O dinheiro foi levado pelo até então assessor político Elizeu Lopes ao gabinete do então titular da pasta, Sérgio Avelleda, que, “ao tomar contato com a embalagem, acionou imediatamente a polícia” e determinou ainda que ninguém deixasse a sala.
A pasta afirmou à época que Avelleda avisou a Controladoria e “determinou ao assessor a devolução imediata” do dinheiro ao vereador. Cristófaro, porém, disse não ter aceitado os R$ 3.000 de volta.
Lopes, que foi afastado da função, alega ter havido um “mal-entendido”. Ele diz ser filiado ao PC do B e amigo de Cristófaro há 18 anos, apesar das diferenças políticas. Afirmou à Folha não acreditar ter havido má-fé do vereador.
À Folha o vereador afirmou que Lopes o procurou pedindo R$ 5.000 para pagamento de advogado em processo contra sua ex-mulher para obtenção da guarda dos filhos.
O dinheiro, relata o vereador, foi guardado na embalagem que abrigava um chaveiro recebido de presente de aniversário recém-completado.
Cristófaro disse ter frisado que aquela era uma doação para os filhos de Lopes.
“Repeti isso. Tenho culpa se ele é burro?”, afirmou o vereador à reportagem na época.
Dono de uma coleção de 17 Fuscas, Cristófaro elegeu-se vereador de São Paulo em 2016 com o discurso contra a “indústria da multa”, em oposição ao então prefeito Fernando Haddad (PT). Com vídeos publicados no Facebook em que registra –ora falando alto, ora gritando– as “pegadinhas” fiscais do trânsito paulistano, conseguiu 29,6 mil votos.
Da FSP