Confissão do general Villas Boas pode libertar Lula

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Em entrevista à Folha de SP, o comandante do Exército, general Villas Boas, prestou um serviço (involuntário) ao país ao confessar que mensagem que divulgou no Twitter na véspera do julgamento do pedido de habeas-corpus de Lula ao STF foi ameaça à Corte. Essa confissão terá consequências drásticas no Brasil e no exterior e pode resultar na absolvição de Lula.

Em 3 de abril deste ano, na véspera do julgamento de pedido de habeas-corpus do ex-presidente Lula, poucos dias antes de ser preso, o comandante do Exército, general Eduardo Vilas Boas, divulgou uma mensagem ameaçadora nas redes sociais.

— tuite general

O tuite de Villas Boas foi interpretado pelo mundo político como uma ameaça ao Supremo Tribunal Federal. Até porque, a mensagem foi comentada no Jornal Nacional também em tom de ameaça pelo âncora William Bonner – conforme você poderá ver na reportagem em vídeo ao fim do post.

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A ameaça surtiu efeito. Por uma escassa maioria, o STF acatou a ordem tácita dos militares.

— 6 a 5

Votaram pela concessão do habeas corpus Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello. Pela rejeição, votaram Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Rosa Weber, cujo voto era o mais esperado.

O voto da ministra Rosa Weber era o mais esperado do dia, por ser considerado decisivo. No julgamento sobre o mesmo tema, em 2016, Weber foi voto vencido – ela era contra a prisão após a segunda instância e, miraculosamente, mudou o voto após a ameaça de Villas Boas.

Em nova manifestação pública do general Villas Boas, publicada  neste domingo via entrevista à Folha de SP, ele confirma que sua manifestação por Twitter, em 3 de abril, foi, de fato, uma ameaça. Mas ressalva, tacitamente, que ameaçou para evitar que houvesse uma rebelião nos quartéis.

— villas boas 2

Nessa entrevista, Villas Boas praticamente confessou a ameaça. Disse, textualmente, o seguinte:

“Eu reconheço que houve um episódio em que nós estivemos realmente no limite, que foi aquele tuite da véspera da votação no Supremo da questão do Lula. Ali, nós conscientemente trabalhamos sabendo que estávamos no limite. Mas sentimos que a coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse. Porque outras pessoas, militares da reserva e civis identificados conosco, estavam se pronunciando de maneira mais enfática. Me lembro, a gente soltou [o post no Twitter] 20h20, no fim do Jornal Nacional, o William Bonner leu a nossa nota”

— villas boas

Villas Boas não esclareceu o que quis dizer com “A coisa poderia fugir ao nosso controle se eu não me expressasse [pelo Twitter]”, mas não é difícil imaginar ao que ele se referia. Obviamente que aludiu ao risco de generais colocarem tanques na rua como fizeram meio século atrás, em 1º de abril de 1964.

Na entrevista, Villas Boas também disse que o governo Bolsonaro não seria um governo “dos militares” mas que estaria ocorrendo uma “politização nos quartéis”. Mais uma vez, não explicou o que isso quereria dizer. E o repórter da Folha Igor Gielow, mais uma vez, não teve curiosidade em perguntar.

Porém, essa fala do general Villas Boas comprova a pressão sobre o STF e servirá de prova ao processo de Lula na ONU e, também, como elemento de constrangimento ao STF, que se acovardou diante da pressão militar.

Além disso, o julgamento do dito “tríplex de Lula” no STF será em 2019 e será difícil aquela Corte ignorar a confissão PÚBLICA de Villas Boas de que ele a ameaçou para que votasse o pedido de habeas-corpus do ex-presidente como os militares queriam.

Por fim, do ponto de vista histórico a ameaça dos militares ao STF e a rendição da Corte deixaram de ser dúvida e se tornaram mais um capítulo vergonhoso da história do Judiciário brasileiro – assim como a guerra do habeas-corpus de Lula no TRF4 em julho e a guerra entre  Fux e Levandowski para a Folha entrevistar Lula durante a campanha eleitoral.

Confira  a reportagem em vídeo