Abelardo Lupion, delatado pela Odebrecht, ganha cargo no governo Bolsonaro

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O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nomeou um ex-deputado federal delatado por um executivo da Odebrecht para ocupar um cargo na Casa Civil com salário de R$ 16,9 mil por mês.

Abelardo Lupion (DEM-PR) foi oficialmente nomeado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na última terça-feira (12) para atuar como um dos negociadores do governo junto à Câmara dos Deputados.

Segundo o delator, Lupion recebeu R$ 250 mil entre 2010 e 2012 em recursos de caixa dois. A defesa do ex-parlamentar rechaçou as citações feitas pelo delator.

Lupion é um dos veteranos da bancada ruralista no Congresso Nacional. Ele é famoso por suas ligações com o agronegócio e por ter sido um dos 38 deputados que votou contra a abertura do processo de impeachment contra o então presidente da República Fernando Collor, hoje no PTC, em 1992. Lupion foi parlamentar em sete legislaturas diferentes e seu último mandato acabou em 2015.

Na última terça, foi nomeado para o cargo de “assessor especial da secretaria especial para a Câmara dos Deputados da Casa Civil da Presidência da República”. Na hierarquia do Planalto, está subordinado a Onyx. Ele é pai do deputado Pedro Lupion (DEM-PR), um dos vice-líderes do governo no Congresso Nacional.

Ele já vinha despachando no Planalto mesmo antes de ser nomeado e é um dos encarregados de comandar a negociação do apoio que o governo precisa junto à Câmara para aprovar os projetos de seu interesse.

Entre os itens pleiteados pelos parlamentares estão cargos e recursos para emendas.

A nomeação de Lupion chama a atenção porque ele foi mencionado nominalmente por um dos executivos da Odebrecht que aderiu a um acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República) em 2017.

Em abril daquele ano, o relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Edson Fachin, encaminhou o caso envolvendo Abelardo Lupion para a primeira instância. Na época, o entendimento do ministro foi o de que as investigações contra ele deveriam tramitar na Justiça Federal do Paraná porque Lupion já não tinha foro privilegiado.

Procurada, a PR-PR (Procuradoria da República no Paraná) disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que o órgão não divulga, antecipadamente, se pessoas ou empresas são alvo de investigações.

Segundo depoimento prestado pelo ex-diretor da Odebrecht Sul Valter Luís Arruda Lana, Lupion tinha um codinome junto à companhia: Lupa. De acordo com Lana, “Lupa” o procurou duas vezes: em 2010 e 2012.

Nas duas, o delator disse que repassou recursos de caixa dois para Lupion.

“À época (2010), o deputado Abelardo Lupion, cujo codinome é Lupa, era candidato à reeleição. [Ele] me procurou via celular e marcamos um encontro. Agendamos uma reunião. Essa reunião deve ter acontecido no segundo semestre de 2010 […] ele fez uma solicitação para a campanha dele a deputado federal. [Na época] ele era do DEM”, disse Lana.

O delator diz que o valor pago em 2010 foi de R$ 150 mil, repassado em espécie. Lana disse que foi ele quem repassou a Lupion, pessoalmente, um papel com as informações necessárias para a retirada do valor.

“Esse recurso foi pago em uma parcela única. Era caixa dois, né? Foi em São Paulo […]. Também voltei a me encontrar com o Lupion, entreguei a ele um papel que continha a data, senha e o local. Se foi ele que retirou, eu não sei, mas também não me procurou mais. Acredito que tenha dado tudo certo”, disse.

Em 2012, disse o ex-executivo, o modus operandi foi o mesmo. Lana disse que, daquela vez, o então parlamentar solicitou recursos para campanhas do DEM.

“[Em 2012] ele voltou a me procurar por telefone solicitando uma reunião […], novamente ele pediu. Até estranhei porque ele não era candidato. Mas ele disse que era para o partido”, disse Lana.

O executivo disse que Lupion reclamou do valor inicialmente oferecido pela Odebrecht e que insistiu para que a quantia fosse maior.

“A proposta tinha sido até menor. Houve uma discussão e acabamos, depois de uma conversa com ele, depois de muita insistência, chegando ao valor de R$ 100 mil. Isso foi pago em uma única parcela”, disse Lana. Mais uma vez, o executivo disse que entregou, pessoalmente, um papel a Lupion com as instruções para o recebimento do dinheiro.

A reportagem telefonou para um dos números de Abelardo Lupion, mas ele não atendeu às chamadas. Seu advogado, Antonio Figueiredo Basto, refutou as declarações do delator contra seu cliente. “Não existe nenhuma prova idônea contra ele. Desconheço qualquer investigação sobre esse assunto”, disse.

As assessorias de imprensa da Casa Civil e da Presidência da República também foram procuradas, mas até a última atualização deste texto, nenhuma das duas havia respondido às questões enviadas.

Do UOL