Bola da vez: a Lava Jato da Educação e o desejo de prender Haddad
Olavo de Carvalho é treinado nisso a que chamam “guerra cultural”. E ele já inventou uma teoria conspiratória para a limpa que começa a ser feita no Ministério da Educação. Nota: limpa de quê? De ideólogos que nada têm a oferecer ao país a não ser a fúria de neoconvertidos ao reacionarismo. Ou vai ser um rapazote que descobriu ontem o anticomunismo a dar lições, nessa área, ao general Hamilton Mourão? Falta a essa gente, antes de mais nada, senso de ridículo. Mas volto. Qual a teoria conspiratória da hora?
Segundo Olavo de Carvalho, seus discípulos estão sendo demitidos para impedir que se efetive a “Lava Jato da educação”, anúncio feito, diga-se, pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.
Como essas demissões impediriam a tal operação policial? Ignora-se.
E, nessa hora, é preciso que se pergunte: “Mas Lava Jato na Educação para apurar o quê?”
Ninguém sabe.
Será que Bolsonaro já combinou com Sérgio Moro uma operação que vai nascer no seio da própria Polícia Federal? Qual será o alvo? As universidades públicas? As relações do governo federal com as mantenedoras privadas de ensino? O FIES, o programa de financiamento para o ensino universitário? O ProUni?
Os porões do governo já definiram um alvo: querem pegar Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e petista que disputou o segundo turno das eleições presidenciais com Bolsonaro. Nas palavras de um extremista, “é preciso pôr Haddad na cadeia”. Mas por quê?
Bem, os que defendem operações de investigação antes mesmo que existam os indícios de crime — e, que se saiba, não existem — certamente não têm pudor de criar as circunstâncias que justifiquem investigações, prisões, condenações.
Há ainda a disposição, nessas catacumbas, de usar uma operação policial como ajuste de contas nas universidades públicas. É a polícia com viés ideológico. Vai ver o suicídio de Luiz Carlos Cancellier, em 2017, então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, não ensinou nada a essa gente. Ele foi vítima de uma operação desastrada da Polícia Federal, que o empurrou para a humilhação e o opróbrio. E nada existia contra ele.
Sérgio Moro gostou tanto do resultado que chamou a delegada que conduziu aquele desastre, Erika Marena, da sua absoluta confiança pessoal, para chefiar um dos órgãos mais importantes do Ministério da Justiça: o DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional). Vocês sabem: pessoas imbuídas de missões para salvar a humanidade, como é o caso do ex-juiz e ministro, não podem ligar para alguns cadáveres colaterais, não é mesmo?
Há o risco de um desastre de proporções oceânicas também entre faculdades e universidades privadas caso se recorra, com a devida vênia, o padrão de investigação que a equipe de Erika Marena empregou em Santa Catarina. Só para que se tenha a dimensão do real, ignorada pelos irresponsáveis: só neste primeiro semestre, o ProUni está oferecendo 243.888 bolsas de estudo: 116.813 são integrais, e 127.075, parciais, distribuídas em 1.239 instituições privadas de ensino superior. O programa já beneficiou quase 2,5 milhões de estudantes.
Quantas “fases” teria a tal operação?
“Ah, está querendo esconder a sacanagem, Reinaldo?” Bem, primeiro digam qual é a sacanagem. Nas democracias, não se abre uma investigação em massa para ver se existe um problema. Isso é prática de tiranias. Porque, ainda que não exista, cria-se. Nas democracias, a investigação é aberta quando há indício de irregularidade.
Mas Olavo de Carvalho dá a dica: essa gente está tão obcecada em meter na cadeia seus adversários. É preciso que haja um pretexto.
É claro que não basta demitir meia-dúzia de auto-intitulados, por falta de pudor, “olavetes”, que são as chacretes do caos. É preciso pôr na rua o ser. Vélez Rodriguez. Ele não sabe o que está fazendo lá nem tem competência para cargo tão importante, estratégico para o desenvolvimento do país.
Do UOL