Em live, Bolsonaro comenta caso de Suzano e não comenta sobre relação com flexibilização da posse de armas
Em sua segunda transmissão ao vivo pelas redes sociais como presidente, Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (14) que vai fazer os vídeos semanalmente como uma “prestação de contas” de seu governo.
Ao lado dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Henrique Mandetta (Saúde), ele tratou de temas como o ataque a escola em Suzano e voltou a falar sobre a importação de bananas do Equador e de questões de trânsito, mas deixou de lado a reforma da Previdência, tema considerado crucial para sua gestão.
O presidente deu início à live comentando o massacre em uma escola de Suzano, no estado de São Paulo, na manhã de quarta (13). Cinco alunos, duas funcionárias e um empresário da escola estadual Professor Raul Brasil foram mortos por disparos feitos por ex-alunos. Outras 11 pessoas ficaram feridas. Ele classificou o episódio como uma “barbaridade”.
O presidente afirmou que não apenas o governo, mas todo o Brasil “ainda está muito chocado com o que aconteceu ontem em Suzano. Na verdade, todo o Brasil está de luto. É uma barbaridade. Nossos sentimentos”, disse.
Ele comentou o fato de o ministro da Educação, Rícardo Vélez, estar no local, e disse que o governo está fazendo “o que for possível” para evitar novos casos como esse.
Bolsonaro não mencionou as críticas feitas à sua gestão pela flexibilização à posse de armas no Brasil, uma das primeiras medidas assinadas por ele.
Bolsonaro destacou a publicação de um decreto na edição de quarta (13) do Diário Oficial da União em que o governo corta 21 mil cargos comissionados.
A medida era promessa de campanha e consta na lista de metas para os 100 primeiros dias de governo, que serão completados em 11 de abril.
“A projeção de economia está na faixa de R$ 200 milhões. Dá para fazer economia sim”, afirmou.
Ainda na área econômica, o presidente mencionou que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, participará do leilão de 12 aeroportos em evento na Bolsa de Valores em São Paulo, na sexta (15).
Ele ressaltou que é preciso tirar os terminais das mãos do estado.
“Infelizmente, onde o estado brasileiro está as coisas não dão certo”, disse.
Num momento em que o Congresso cobra do Executivo concessões em troca de apoio à reforma da Previdência, Bolsonaro voltou a falar que o Brasil não tem como dar certo se continuar fazendo a “velha política”.
Dois dias depois de ter dito em uma videoconferência com ministros que existe uma “pressão enorme” para a permanência da política do toma lá dá cá, o presidente disse que os parlamentares entendem o novo momento.
“Não temos pressão por ministérios por parte de parlamentares e eles em grande parte sabem que o caminho é esse, o caminho técnico”, afirmou.
Como medida positiva, citou que o Congresso deve votar a medida provisória antifraude, em referência a um texto que tem como objetivo diminuir fraudes no INSS.
Ao lado de Mandetta, Bolsonaro destacou uma campanha de vacinação contra a gripe que será antecipada no estado do Amazonas. Segundo ele, 1 milhão de novas vacinas serão destinadas ao local.
O ministro explicou que a previsão inicial era de envio apenas no fim de abril, mas que uma proliferação atípica da doença, que provocou “muitos óbitos”, provocou a antecipação.
Ainda na transmissão ao vivo, Bolsonaro falou sobre a viagem que fará no domingo (17) aos Estados Unidos, onde vai se reunir com o presidente Donald Trump. Ele e Araújo defenderam parcerias com o país da América do Norte e criticaram governos anteriores de não manterem relações próximas por “questões ideológicas”.
Bolsonaro lembrou que o maior parceiro econômico do Brasil é a China, mas que os EUA “podem ser um grande parceiro”.
Segundo o chanceler, essa reaproximação é a “retomada de uma parceria natural” que já era vista desde o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira.
“Qualquer iniciativa era boa até que aparecesse EUA e era descartada”, disse Araújo. Entre os exemplos, ele citou um acordo envolvendo a base de lançamento de foguetes em Alcântara, no Maranhão, tema que deve ser discutido na viagem oficial.
“Desde o governo Lula estamos tentando esse acordo e não tivemos sucesso muito mais por uma questão ideológica do que técnica”, afirmou, acrescentando que o Brasil perde dinheiro sem essa parceria.
Já Araújo destacou ainda a importância nas relações entre os dois países pela “defesa da democracia” na Venezuela, sob o regime do ditador Nicolás Maduro.
O chanceler disse que já está pronta a mudança na capa do passaporte brasileiro.
Como uma das metas de sua pasta para os 100 dias de governo, ele prometeu reformular o documento para a versão anterior, que tinha em destaque o brasão brasileiro.
O presidente mencionou ainda que fará ainda este mês viagens ao Chile a Israel.
O presidente voltou a criticar ainda a Folha ao mencionar uma coluna de Janio de Freitas publicada no jornal na edição do último domingo (10).
No texto, Janio critica o presidente por tratar como prioritária a preocupação pelas importações de banana pelo Brasil do Equador. Segundo, o colunista, isso traria benefícios para seus familiares no Vale do Ribeira (SP), onde Bolsonaro cresceu e ainda tem parentes. O presidente diz que todos os dias os jornais trazem duas ou três matérias contra ele e que “para variar” esse era um caso da Folha.
“Nenhum parente meu tem lá um hectare cultivando banana, não tem uma climatizadora, a minha família não mexe com transportes de banana, com nada no tocante a isso”, afirmou.
“Então é uma acusação que ele fala que eu tenho primos e parentes e não cita o nome. Se ele citasse o nome eu poderia até entrar com uma acusação contra ele por calúnia e difamação.”
Bolsonaro nega que tenha prometido a um primo rever o fantasma de preço competitivo da banana do Equador.
“Não é verdade, fake news, é mentira”.
“Olha Folha de S.Paulo, isso não é um jornalismo sério, não é a primeira vez. Eu lamento matéria nesse sentido aqui”, diz.
O colunista Janio de Freitas respondeu ao comentário do presidente.
“O reconhecimento de Jair Bolsonaro à Folha explica que a priorize com sua leitura”, disse Janio.
”Meu comentário foi sobre notícia de O Globo de dois dias antes (8.mar.19), com a seguinte informação não considerada pela crítica a mim: ‘A medida (palavras de Bolsonaro: ‘acabar com o fantasma da importação de banana do Equador’), caso seja adotada, poderá beneficiar um dos sobrinhos do presidente que é produtor rural na região do Vale da Ribeira’. ‘Outro que pode ser beneficiado é Valmir Beber, aliado político dos Bolsonaro no Vale’, onde ‘fez campanha para Bolsonaro e teve apoio da família do presidente’. Valmir Beber, aliás, era presidente da Associação dos Bananicultores da região, foi recebido por Bolsonaro pouco antes da posse para falar contra a importação e, como candidato dos Bolsonaro a deputado federal, o bananicultor colheu uma derrota”, completou.
Repetindo o que fez na última edição da live, quando também tratou das bananas, Bolsonaro voltou a falar de questões de trânsito e disse ter pedido ao ministro Tarcísio de Freitas para rever a placa de carros do Mercosul, já implantada em algumas cidades brasileiras.
“Entramos em contato já há algum tempo com o nosso ministro Tarcísio [Freitas], da Infraestrutura, para ver se a gente consegue anular essa placa [de carros] do Mercosul, porque eu acho que não tem ali o município […] não traz, no meu entender, benefícios para o Brasil”, disse.
“É constrangimento, é até uma despesa a mais para a população. Estamos tentando uma maneira legal, eu acho que dá para encontrar uma solução, de acabarmos com essa placa.”
Da FSP