Em seu primeiro mês no Senado, Flávio Bolsonaro buscou não ser notado

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Pressionado, desde o fim do ano passado, por investigações sobre suas movimentações financeiras , o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) completou o primeiro mês no cargo com uma atuação discreta no Senado. Além de não ter feito discursos, não apresentou projetos e evitou a imprensa durante boa parte do tempo. Nos bastidores, porém, tem sido procurado pelos colegas como interlocutor do governo do pai, o presidente Jair Bolsonaro, no Senado.

Considerado o mais moderado dos filhos do presidente, Flávio era esperado com grande expectativa no Senado, como uma espécie de porta-voz do pai na Câmara Alta do Parlamento. Em dezembro, porém, veio a público o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão na conta de um ex-assessor dele na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Flávio submergiu.

Nas primeiras semanas de Senado, evitou ser notado, utilizando o microfone do plenário apenas para intervenções pontuais. Seu maior destaque se deu em fevereiro, na eleição à Presidência da Casa. Destoando da orientação do seu partido, o PSL, que defendia o voto aberto, Flávio votou secreto na disputa que envolvia Renan Calheiros (MDB-AL) e Davi Alcolumbre (DEM-AP). Com a anulação da primeira votação por fraude, voltou atrás ao perceber a reação negativa das redes sociais e revelou o apoio a Alcolumbre.

A escolha foi considerada determinante para a desistência de Calheiros que, pouco depois, anunciou que deixava a briga por supostamente ter perdido votos entre uma votação e outra. Na tribuna e em entrevistas, Renan insinuou que Flávio havia mudado de posição. Depois da vitória de Alcolumbre, Flávio conseguiu um lugar na Mesa Diretora, sendo eleito terceiro secretário do Senado.

Titular em uma das comissões mais importantes do Congresso, a de Assuntos Econômicos (CAE), o senador ainda não apresentou projetos. Até agora, é relator de um ofício do Ministério da Fazenda com a proposta de “intralimite anual de concessão de garantias pela União às operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios”.

A segunda proposta que relata é na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da qual é suplente. Trata-se de um projeto do senador Lasier Martins (PSD-RS), que altera o Código Penal para agravar a pena quando o crime é cometido durante saída temporária, liberdade condicional, prisão domiciliar ou “em situação de evadido do sistema prisional”. Segurança pública deve ser uma das suas principais áreas de atuação. Ele tornou-se relator de outras duas propostas nessa área recentemente.

ARTICULAÇÃO

Discreto publicamente, Flávio tem sido procurado pelos colegas como canal de comunicação com o pai. Antes do carnaval, o governo definiu seu líder na Casa, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Enquanto isso, sem saber com quem tratar para discutir assuntos no governo, os senadores passaram a procurar Flávio.

– Tem de definir logo o líder ou meu gabinete vai continuar lotado, sendo visto como liderança de governo – brincou o senador, antes do anúncio de Coelho.

Nos corredores da Casa, senadores dizem que se surpreenderam com Flávio, por ter um temperamento mais comedido entre os filhos do presidente. Um líder partidário diz que “ele não se compromete em resolver demandas com o governo, mas é habilidoso politicamente”. Segundo ele, a qualidade política de Flávio é “saber ouvir”.

Segundo aliados de Flávio, sua atuação deve continuar discreta nos próximos meses. O senador quer evitar os holofotes, na tentativa de não dar fôlego à polêmica que ficou conhecida como “Caso Queiroz”. Ex-motorista de Flávio na Assembleia, Fabrício Queiroz movimentou milhões em sua conta de maneira considera “atípica” pelo Coaf. Depois, tornou-se público também movimentações do próprio senador, que recebeu em uma conta 48 depósitos, no total de R$ 96 mil.

A primeira versão de Queiroz para o dinheiro foi a negociação de carros usados. O próprio presidente Bolsonaro chegou a dizer que o ex-assessor do filho “fazia rolo”. Em depoimento, por escrito, ao Ministério Público do Rio de Janeiro, porém, Queiroz mudou a versão sobre os carros e passou a dizer que administrava os pagamentos do gabinete do então deputado estadual sem o conhecimento de Flávio.

Queiroz disse que gozava de confiança do então deputado estadual e que foi escolhido para o cargo por ter atuação próxima a pessoas da área de segurança e polícia, grupos ligados à base eleitoral de Flávio.

O ex-assessor disse que “entendeu que a melhor forma de intensificar a atuação política seria a multiplicação dos assessores da base eleitoral, valendo-se, assim, da confiança e da autonomia que possuía para designar vários assistentes de base, a partir do gerenciamento dos valores que cada um recebia mensalmente”.

O senador foi procurado pela reportagem, via assessoria de imprensa.

De O Globo