Marcos Nogueira: “Trate as merendeiras com o respeito que merecem, governador”

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A semana foi de horror. Para os brasileiros em geral e, em particular, para o ensino público estadual paulista.

O tom do noticiário já não era auspicioso na segunda-feira, quando a manchete da Folha anunciou uma mudança para pior no cardápio da merenda escolar.

Dois dias depois, o massacre de Suzano. O assunto da merenda, naturalmente, se dissipou na comoção. Voltemos a ele.

A guinada se deu no segundo semestre do ano passado, com a suspensão de um projeto coordenado pela chef Janaína Rueda, do Bar da Dona Onça.

O Cozinheiros da Educação propunha a substituição de alimentos processados por ingredientes frescos, em receitas tradicionais paulistas preparadas por merendeiras capacitadas pela própria Janaína.

Voltaram as almôndegas congeladas. A Secretaria de Educação cogita comprar molho de tomate em pó – molho em pó!

O cardápio da garotada inclui refeições que beiram o nonsense. Arroz com farofa e ervilha no prato principal, por exemplo.

“Chama a atenção a profusão de receitas com ervilha”, diz a reportagem assinada na segunda-feira por Angela Pinho. “Até um bolo de ervilha com recheio de chocolate.”

Bolo de ervilha com chocolate. Para tudo.

A ervilhada paulista é resultado da adesão da administração estadual à “segunda sem carne” –a adoção do vegetarianismo, uma vez por semana, por gente que come de tudo.

Sobre a “segunda sem carne”: se for fazer, que faça direito. Arroz com ervilha e farofa não é refeição vegetariana. É uma refeição pobre sob qualquer aspecto.

Com a saída de Janaína Rueda, dançou também o treinamento das merendeiras. Uma perda tremenda.

O déficit de capacitação das merendeiras grita aos olhos nas receitas que a própria Secretaria de Educação publica em seu site –com crédito às autoras e, creio eu, na mais cândida boa-fé.

“Arroz doce de UHT”: arroz, água e bebida láctea UHT sabor frutas. “Escurinho gostoso”: bebida láctea de chocolate, ovos e água. Além das malfadadas bebidas lácteas, abundam as receitas com margarina, carne moída pré-cozida, bolacha doce, enlatados em geral.

As merendeiras cozinham o que sabem cozinhar: a dieta dos brasileiros de baixa renda, com os insumos fornecidos pelo estado. Estudantes merecem alimentação melhor. O governo discorda. Dá aos pobres comida de pobre.

Em Suzano, a merendeira Silmara Cristina Silva de Moraes fez uma barricada na cozinha e salvou cerca de 50 alunos da escola estadual Raul Brasil. Uma demonstração instintiva de amor por aqueles que ela alimenta todos os dias.

De forma menos dramática, as vidas de todos os adolescentes e crianças da rede pública estão nas mãos das merendeiras. Que tal tratá-las com o respeito que elas merecem, governador?

Da FSP