MBL quer se distanciar do governo Bolsonaro
Apesar de ter apoiado Jair Bolsonaro no segundo turno contra Fernando Haddad (PT) em 2018, o MBL (Movimento Brasil Livre) está abrindo uma dissidência virtual ao governo e tem ido às redes sociais para criticar a atuação do presidente.
O grupo foi um dos principais articuladores das manifestações pelo impeachment da petista Dilma Rousseff e conseguiu eleger parlamentares pelo país nas últimas duas eleições. A ideia agora é se distanciar do presidente e abrir uma ala de direita independente do bolsonarismo.
Parlamentares e coordenadores ligados ao movimento criticaram nas últimas semanas as postagens polêmicas de Bolsonaro no Twitter.
Nesta segunda-feira (11), Renan Santos, um dos principais coordenadores nacionais do MBL, gravou um vídeo em que chama de “cagada” a publicação em que o presidente atacou uma repórter do jornal O Estado de S. Paulo, no domingo (10).
“Não é estratégia, é cagada, é desgaste, não é inteligente isso”, diz Santos no vídeo, que até a tarde desta terça-feira (12) acumula 70 mil visualizações. “É uma máquina de crises inúteis.”
Ele, considerado o principal estrategista do movimento, afirma que ao publicar uma notícia falsa, Bolsonaro “dá discurso para a esquerda” e diz que o mandatário precisa focar na aprovação da reforma da Previdência.
Antes, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), principal figura midiática do MBL, foi ao Twitter criticar o presidente por compartilhar em sua linha do tempo um vídeo obsceno em que um homem urina em outro durante um bloco de Carnaval em São Paulo.
“O tweet de Bolsonaro é incompatível com a postura de um presidente, ainda mais de direita. Bola fora”, escreveu no dia 6 de março.
As críticas também atingem o filho do presidente, Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), conhecido pela influência sobre o pai e por ser responsável por parte da comunicação das redes sociais do presidente. “Mano do céu…alguém muda a senha do twitter presidencial pro Carlos parar de ser meter. Que porra é essa!?!?”, escreveu Santos em sua conta no Twitter no domingo.
A rixa é recíproca e antiga: em 2017, o vereador foi à mesma rede social dizer que “o MBL nada mais é do que a “oposição” desejada e imposta pela mídia e pela esquerda!”
O discurso de que Bolsonaro está perdendo a batalha de comunicação da Previdência e precisa focar nisso é central nas críticas públicas do grupo.
“O presidente precisa se preocupar com o que realmente importa: a Previdência. Desviar a atenção é fazer o jogo da oposição, boicotando o próprio governo e prejudicando o país”, afirmou Kataguiri à Folha.
O desgaste que pode prejudicar a aprovação da reforma, uma das principais pautas do MBL desde o impeachment, não é o único ponto de discordância do movimento com os Bolsonaro, porém.
Apesar de terem compartilhado pautas de costumes antes da eleição, como o Escola Sem Partido, integrantes do movimento dizem que a avaliação interna é de o governo é pior do que o grupo esperava durante as eleições. No primeiro turno, o MBL não teve candidato oficial à presidência. No segundo, decidiu fechar com Bolsonaro em detrimento da candidatura do PT.
Agora, o grupo busca inclusive se afastar da agenda de costumes conservadora para criar uma diferenciação do bolsonarismo, e centralizar novamente o discurso na pauta econômica, em torno da qual foi criada o MBL.
No começo de sua trajetória, coordenadores afirmavam que o grupo possuía tanto conservadores como liberais no quesito de costumes. Segundo pessoas ouvidas pela Folha, o grupo acabou se voltando para pautas do gênero em 2017 quando a agenda reformista de Michel Temer perdeu apoio e chances de aprovação por causa das denúncias contra o então presidente.
Parte do MBL demonstra simpatia com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que tem pretensões de concorrer à presidência em 2022.
Nos bastidores, afirmam que o movimento tentou viabilizar uma candidatura de Doria em 2018, mas que o então prefeito “se queimou”, e o classificam como oportunista. Dizem, porém, que comparado a Bolsonaro o tucano seria mais palatável.
O sucessor de Doria na Prefeitura também está na mira do MBL. O grupo rompeu com a atual gestão paulistana após a curva à esquerda de Bruno Covas (PSDB), classificada pelos seus militantes como “estelionato eleitoral”.
O ápice da guerra foi atingido nos últimos dias, após chuvas levarem caos e mortos à capital paulista, enquanto Covas fazia viagem a Berlim, na Alemanha.