PM preso pela morte de Marielle atuou na guarnição comandada por mandante da execução da juíza Patrícia Acioli
O policial militar Ronnie Lesssa, preso na manhã desta terça-feira, suspeito do assassinato da vereadora Marielle Franco e apontado como o atirador do homicídio, atuava no 9º BPM (Rocha Miranda), chefiado, em muitos momentos, pelo tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira.
A guarnição era formada pelos mesmos integrantes, com Lessa incluído na maioria das vezes, e comandada por Cláudio. O oficial é conhecido pelo público por ser condenado a 36 anos de prisão, acusado de ser o mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli. Cláudio cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Até julho do ano passado, ao menos, Cláudio continuava integrando as fileiras da PM, recebendo a sua remuneração todos os meses. Em junho, mesmo sem servir e proteger a população, Claudio Luiz teve a conta engordada em R$ 19.916,53. Até aquele mês, nos seis anos e dez meses de prisão, ganhou R$ 1,7 milhão entre remunerações e 13º.
A juíza patrícia Acioli foi morta, na porta de casa com 21 tiros, no dia 12 de agosto de 2011, no bairro de Piratininga, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. A juíza era titular da 4º Vara Criminal de São Gonçalo e foi responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e grupos de extermínio, fato que teria gerado insatisfação entre os grupos criminosos que atuavam na região.
Em dezembro de 2013, Cláudio foi condenado a 36 anos de prisão pelo crime. O oficial ingressou no sistema penitenciário federal em dezembro de 2011 e já passou por diversas unidades. Desde março de 2016, ele está em Mossoró.
No ano passado, Ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinaram a permanência do tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. A decisão foi tomada por unanimidade, pela Terceira Seção do tribunal.
Em seu voto, o ministro Sebastião Reis Júnior — relator do processo —, alegou que “diante da evidente situação de precariedade da segurança pública no Rio de Janeiro, circunstância essa que, inclusive, fundou a decretação de intervenção federal ainda em curso, não me parece prudente o retorno do reeducando ao sistema penitenciário daquele estado”.
O juiz corregedor da penitenciária de Mossoró moveu o processo, pedindo o retorno de Cláudio para o Rio. A Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio foi contra e requisitou nova prorrogação do prazo de permanência do oficial no presídio federal.
A VEP justificou a manutenção de Claudio fora do Rio, alegando que ele ainda “gozaria de grande prestígio junto a integrantes da sua corporação em virtude de seu perfil operacional e conhecimentos envolvendo operações em ambientes hostis, tendo passagem em Batalhões da PM responsáveis pelo policiamento de comunidades controladas pelo crime”.
Ronnie Lessa nos idos de 1992, tinha fama de ser violento, aparecendo com frequência nas manchetes de jornal. Não é à toa que os policiais que davam serviço naquela época eram conhecidos como “Cavalos Corredores”. Foi da unidade de Rocha Miranda que saíram os PM condenados pela chacina de Vigário Geral, em 1993, quando 21 pessoas — oito delas evangélicos de uma mesma família — foram executadas.
Na época, o batalhão tinha praticamente todo o seu efetivo com casos de auto de resistência, situação que ganhou o holofote justamente por causa do massacre.
Ronnie Lessa ainda era soldado e se integrava aos colegas. Sua guarnição era uma das campeãs de louvores da corporação pelas operações que incluíam a apreensão de armas e drogas, o estouro de locais de endolação de drogas e prisões.
O chefe do grupo era o capitão que inclusive ainda é lembrado nos dias de hoje como um dos três oficiais mais operacionais que passaram pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope): Cláudio Luiz Silva de Oliveira.
De O Globo