Denúncias de discriminação racial no trabalho crescem 30%
O Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu 896 denúncias de casos de discriminação em razão da origem, raça, cor ou etnia nos últimos cinco anos. Só no ano passado foram 205, um crescimento de 30% em relação a 2014.
O MPT divulgou o levantamento em alusão ao Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial, celebrado nesta quinta-feira. No Brasil, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, negros têm as mais altas taxas de desemprego e recebem, em média, salários mais baixos.
– É preciso criar condições para superar o racismo estrutural que impede as pessoas negras de alcançarem melhores postos de trabalho, com maior igualdade salarial – disse a procuradora Valdirene Silva de Assis, coordenadora nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade) do MPT.
No fim do ano passado, a renda média dos trabalhadores brancos era 76% maior que a dos negros. Segundo a pesquisa Pnad Contínua, enquanto o primeiro grupo recebia R$ 2.834 mensais, o salário médio do segundo era de apenas R$ 1.609.
Luana Génot, fundadora e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil, diz que o número de casos que chegam ao MPT não representam a realidade, pois há muita subnotificação:
– As pessoas só denunciam quando é um caso extremo. Existe muito receio de perder o emprego.
Hoje, mais da metade da população brasileira é negra, mas nas cem maiores empresas do país, apenas 5% dos cargos executivos são ocupados por esse grupo.
– É impossível acreditar que eles não querem alcançar cargos e salários maiores. Há muitos empecilhos e barreiras que impedem as pessoas negras de galgarem na hierarquia. O racismo estrutural, que se expressa quando uma empresa não coloca um negro num cargo de gestão simplesmente por conta da sua cor, é muito mais grave – diz Luana.
No fim do ano passado, o MPT, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e apoio da ONU Mulheres, criou o Canal Preto . Trata-se de uma ferramenta para dar voz a influenciadores, personalidades e cidadãos negros e discutir políticas públicas relativas às questões raciais.
Outra iniciativa da Coordigualdade é o Projeto Nacional de Inclusão de Jovens Negras e Negros no Mercado de trabalho, que já gerou pelo menos três pactos pela inclusão, firmados com participação das unidades do MPT em São Paulo, no Paraná e no Distrito Federal.
De O Globo