Rodrigo Amorim provoca reação em ocupantes da Aldeia Maracanã, chamada por ele de “cracolândia e “lixo urbano”

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Uma visita repentina do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) à Aldeia Maracanã, chamada por ele de “cracolândia e “lixo urbano” em janeiro, acabou em confusão nesta sexta-feira (22). Segundo o parlamentar, que estava acompanhado de Alexandre Knoploch (PSL), o objetivo era vistoriar o prédio onde um dia funcionou o Museu do Índio. Amorim chegou a entrar no terreno, que fica às margens da Avenida Radial Oeste, mas, chamado de “racista”, foi cercado pelos ocupantes e impedido de se aproximar do edifício. Acusado por moradores da Aldeia Maracanã de agredir um dos manifestantes, Knoploch argumentou:

— Quando já estávamos fora da Aldeia, veio um pseudoadvogado gritando com a gente porque havíamos entrado lá. Eu falei que a área era do estado e que era para ele falar baixo. Nisso, chegou um rapaz se dizendo estudante. Ele me deu um empurrão e me chamou de nazista. Logo eu que sou judeu. Aí eu dei um chega para lá nele, sim.

Membro suplente no Conselho Estadual dos Direitos dos Indígenas, Sérgio Potiguara classificou a presença dos deputados como um “ataque” e pede uma reunião emergencial, na segunda-feira, por considerar a atitude dos parlamentares “uma agressão e uma nova incitação ao ódio”.

Para Rodrigo Amorim, no entanto, a reação dos moradores da Aldeia Maracanã foi desproporcional:

— Chegamos lá com educação, cumprimentando a todos, com intuito de apenas ir até o prédio. Uma primeira pessoa, que me pareceu índio, me recebeu de forma muito correta. Mas, depois, saiu um grupo de dentro do prédio. Eles estavam com uma arma, uma haste pontiaguda. Eu estava cumprindo minha atribuição parlamentar de vistoriar uma área que pertence ao estado — disse Amorim. Acompanhavam o parlamentar dois assessores, policiais militares à paisana, que estão lotados em seu gabinete na Assembleia Legislativa.

— Ando com eles porque já sofri ameaças — justificou Amorim.

Para o deputado Flávio Serafini (PSOL), que é contra a retirada dos índios do local, Amorim tentou “provocar” os ocupantes da Aldeia Maracanã:

— Foi claramente uma ação de provocação. Primeiro, ele se refere ao local como “cracolândia” e “lixo urbano”, depois, aparece lá para fazer uma vistoria. Como ele achava que seria recebido? — indagou Serafini. — Querer destruir a Aldeia Maracanã é querer destruir a cultura indígena como um todo — afirmou.

Amorim, por sua vez, nega que tenha tido a intenção de provocar. Ele diz que pretende retornar ao local para vistoriar o prédio do Museu do Índio.

— O debate ideológico ocorreu em janeiro, quando dei aquelas declarações que repercutiram. Mas, nesta sexta, meu objetivo não tinha nenhum viés ideológico. Uma engenheira, moradora da Tijuca como eu, me parou na rua e disse que esse prédio está prestes a desabar. Alguma tragédia vai acontecer ali se ele não for restaurado.

Amorim continua com a intenção de pôr um fim à Aldeia Maracanã.

— Vamos buscar uma solução de consenso para atender aos poucos índios que estão ali e, principalmente, devolver aquele espaço para a cidade do Rio.

Em janeiro, o governador Wilson Witzel afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “precisa analisar tudo, inclusive a questão jurídica, para poder tomar alguma decisão sobre o caso”.

Membro suplente do Conselho Estadual dos Direitos Indígenas, Sérgio Potiguara classifica a vistoria de Amorim como um “ataque por parte de parlamentares do PSL”. Potiguara afirma que Amorim “tem fomentado discurso de ódio e de rascismo institucional”. Em janeiro, o grupo protocolou, junto ao gabinete do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, André Ceciliano (PT), uma representação com pedido de quebra de decoro para que fosse julgada pela Comissão de Ética da Casa, por conta das declarações de Amorim. Na ocasião, Amorim afirmou que “quem gosta de índio deveria ir para a Bolívia”. Potiguara escreveu: “Ontem, os fascistas atacaram de novo”.

“É fundamental que as instituições democráticas do Estado brasileiro adotem medidas preventivas para assegurar a integridade física dos indígenas fluminense, assim como proteger e resguardar nossa cultura, territórios e ancestralidade de ataques de forças políticas reacionárias de extrema direita”, disse Potiguara, em mensagem de texto divulgada na internet.

O GLOBO tentou contato com Arão Guajajara, advogado que representa os ocupantes da Aldeia Maracanã, mas ele não retornou as ligações.

De O Globo