Vereador Marcello Siciliano volta a ser investigado como mandante do assassinato de Marielle
O vereador Marcello Siciliano (PHS) continuará sendo investigado pela polícia como possível mandante do assassinato de Marielle Franco. O nome dele foi citado como a pessoa que encomendou o crime por R$ 200 mil na mesma denúncia anônima que acusou Ronnie Lessa de ser o executor. A revelação consta da investigação da Delegacia de Homicídios (DH), que partiu desse testemunho para chegar a Lessa. O vereador já havia sido atrelado ao assassinato no ano passado, a partir de uma delação de uma testemunha que, no mês passado, admitiu ter mentido no seu depoimento.
Ontem, o delegado responsável pelo caso, Giniton Lages, disse que o parlamentar não estava descartado, mas não havia anunciado sua menção na nova denúncia. Procurado, Siciliano nega sua participação e diz se tratar de uma “operação de vingança”.
Na coletiva de ontem, tanto a DH quanto o Ministério Público do Rio afirmaram que ainda não é possível afirmar quem foi o mandante do crime, e que essa questão será o foco da segunda fase do inquérito. O delegado Giniton ressaltou nenhuma linha estava afastada.
No dia 15 de outubro de 2018, a DH recebeu uma denúncia anônima informando que o ex-policial conhecido como Lessa, apelidado de “Perneta”, seria o autor do assassinato de Marielle. O denunciante disse que o executor, um “ex-caveira”, teria saído do restaurante Tamboril, no Quebra-Mar rumo ao local do atentato, e que fora encomendado por R$200 mil para a empreitada criminosa. Posteriormente, a investigação chegou ao nome do ex-policial Ronie Lessa, e que o apelido seria em função da exposão ocorrida em 2009, no carro em que ele dirigia, que terminou por amputar sua perna.
A ligação com o restaurante Tamboril, atualmente conhecido como Varandas, também foi atestada pela investigação por causa de uma tentativa de assalto sofrida por Lessa, um mês após o assassinato de Marielle, justamente na saída do restaurante. No episódio, ele acabou sendo baleado no pescoço, mas o roubo foi impedido pelo bombeiro Maxsuell Simões, conhecido como Suel, que acompanhava Lessa e sacou a sua arma. Suell também está sendo investigado no caso Marielle.
Marcello Siciliano já havia sido apontado como mandante do crime por uma outra testemunha, em maio do ano passado. Segundo esse primeiro denunciante, um ex-motorista de Orlando Curicica, preso por porte ilegal de arma e acusado de ser miliciano, o vereador havia afirmado, num encontro com Orlando no restaurante Oficina do Chopp que desejava a morte de Marielle, provavelmente devido à sua atuação parlamentar na luta fundiária de Vargens, região que seria de interesse de Siciliano e Curicica.
Entretanto, essa testemunha voltou atrás do seu testemunho no ano passado, após ser interrogado pela Polícia Federal, que deflagou operação para investigar possíveis obstruções na apuração do caso Marielle. Nesse segundo depoimento, o delator disse que estava no restaurante Oficina do Chopp, junto com Orlando Curicica e Siciliano, mas que não pôde ouvir o que ambos conversaram. Ele disse que inventou a história como forma de incriminar seu então chefe, Orlando Curicica, de quem desejava se vingar.
Mesmo com esse novo testemunho, Giniton Lages afirmou, na coletiva dessa terça, que Siciliano continuava sendo um dos investigados.
— Em nenhum momento a DH legitimou ou deixou de legitimar qualquer linha de investigação. A testemunha voltou atrás de seu depoimento, mas não afastamos nenhuma linha para a segunda fase do inquérito. Nem Siciliano nem ninguém está afastado — afirmou o delegado, que, por outro lado, não havia mencionado a nova denúncia sobre Siciliano.
Nas investigações acessadas pelo GLOBO, a DH diz que, apesar do falso testemunho, “com o surgimento de novas informações acerca do envolvimento deles (Marcello Siciliano e Orlando Curicica) no crime, novas diligências poderão ser realizadas” na segunda fase do inquérito, que busca agora o mandante do crime.
Procurado, o vereador disse que a nova denúncia anônima trata-se de um absurdo, e definiu o disque denúncia como “disque vingança”. Em nota, ele afirmou:
“Os últimos fatos revelados tiraram completamente a credibilidade da DH para investigar o Caso Marielle. Inclusive a troca do delegado já foi noticiada pelo jornalista Lauro Jardim, de O Globo. É a terceira versão diferente que surge e envolvem o nome do vereador. Mesmo depois de a primeira testemunha ter admitido que mentiu e a advogada da testemunha também ter afirmado em depoimento que a versão foi montada. E sempre por denúncia de supostas testemunhas plantada e sempre sem nenhuma prova. Agora quem quer saber é o vereador por que tanto interesse em envolver o nome dele nesse crime bárbaro. Querem proteger a quem? Enquanto isso, desvirtuam as investigações.”
Investigação sobre Ronnie Lessa
Em coletiva nessa terça, Giniton afirmou que Ronnie Lessa estava no rol de policiais no “perfil” analisado pelos investigadores. O ex-policial já havia sido preso preventivamente em 2011 , suspeito do crime de organização criminosa, na “Operação Guilhotina”. Contudo, a informação de que ele foi o executor do crime, explicou o delegado, surgiu da denúncia anônima. A partir daí, coube à investigação provar que ele estava de fato no carro.
— Recebemos informação de que ele estaria dentro do carro e que teria saído do Quebra Mar. Qualificamos, então, essa denúncia. A partir de evidências técnicas, conseguimos colocar Ronnie Lessa dentro do carro. Ele ocupava o banco de trás, e efetuou o disparo, e que Elcio Queiroz era o motorista — explicou na coletiva de terça o delegado. — O trabalho técnico no MPRJ não deixa nenhuma dúvida, que numa movimentação que o atirador faz. Que apoia o braço direito sobre o banco. Nesse movimento tecnicamente foi possível cravar que é o braço de Lessa ali.
Além de provar sua participação no carro, a polícia investigou os movimentos de Lessa anteriores ao crime, como pesquisas sobre diversos nomes do PSOL e da esquerda, em especial Marcelo Freixo. A investigação chega, inclusive, a citar que o ex-policial denotou “obsessão” pelo deputado Marcelo Freixo. As pesquisas foram também sobre familiares do parlamentar, como sua filha.
Lessa também fez várias pesquisas sobre locais onde Marielle Franco estaria presente, conforme divulgava na sua agenda, nos meses anteriores ao assassinato. Alguns locais pesquisados pelo ex-policial, mostram a investigação, foram a Praça São Salvador, o campus da UFRJ, e um local na Avenida Oswaldo Cruz, no Flamengo. Em todos, a parlamentar também havia estado presente.
Para a investigação, esses indícios “sem dúvida, reforçam os indícios incontroversos e veementes de que Ronnie Lessa, naquele momento, realizava o monitoramento e levantamento de rotina da vitima,tendentes à pratica delitiva”.
Outras pesquisas feitas por Lessa foram sobre armamento e possíveis dispositivos usados no crime, como bloqueador de sinal e anti-radares. Também chamou a atenção da DH, que o ex-policial pesquisou sobre um endereço antigo de Marielle, hoje de seu ex-marido, que consta como o oficial da vereadora no portal de segurança da Polícia Civil. Sobre isso, Giniton disse em coletiva que Lessa pode ter tido ajuda para acessar o portal.
De O Globo