O que marcou a política em 2011
O ano que se encerra não marcou apenas o fim de uma década, mas, também, o fim de uma era, da era Lula. Em 1º de janeiro de 2011, o político que divide com Getúlio Vargas o título de autor das maiores transformações políticas, econômicas e sociais da história do país entregaria o cargo à primeira mulher a se eleger presidente da República Federativa do Brasil.
Naquele mesmo dia, ocorreria um fato espantoso, beirando o inacreditável, e que, visto da perspectiva atual, já revelava o clima político que se instalaria no país ao longo do ano que acabara de começar.
Em 2 de janeiro, este blog publicaria aquele que seria um dos posts mais lidos desde que foi criado, em 2005. Dezenas de jovens – alguns nem tanto – desencadeariam uma onda no Twitter de pedidos para que um franco-atirador matasse a primeira mulher presidente da história assim como fora assassinado o ex-presidente norte-americano John Kennedy.
O post Jovens pregam assassinato de Dilma no Twitter recebeu 434 comentários, 837 menções no Twitter e 774 “curtidas” no Facebook. Nos dias que se seguiram, o procurador-geral da República, doutor Roberto Gurgel, abriu investigação sobre o caso após o deputado federal pelo PT do Paraná, doutor Rosinha, encaminhar a ele a denúncia feita por este blog.
Em 22 de janeiro, 3 dias após a festa que o jornal Folha de São Paulo deu para comemorar seus 90 anos de existência – uma festa que surpreendeu a opinião pública por ter contado com a presença da presidente Dilma Rousseff, que chegou a discursar no evento –, este blog publica a crônica Os suspensórios do Otavinho.
O texto já manifestava preocupação com o que se tornaria uma tendência da presidente: tentar manter relações civilizadas com a mesma imprensa que nos oito anos anteriores se portara como partido político de oposição ao governo Lula e que chegou a publicar falsificações difamantes contra a própria Dilma em sua primeira página.
Em 12 de março, após uma onda de insubordinações de militares de alta patente, o blog publicaria um manifesto que pedia Um monumento pelas vítimas da ditadura. Dizia o texto: “Há alguns poucos monumentos escondidos por este país, mas esse tem que ser feito em Brasília, em plena Praça dos Três Poderes. Para que este país jamais esqueça”.
Quase 400 leitores apoiaram a proposta através de comentários. O pedido com as 373 assinaturas virtuais, então, foi remetido por e-mail a uma autoridade do primeiro escalão do governo cujo nome não foi possível declinar por exigência da mesma. Em 23 de março, o jornal O Estado de São Paulo noticiaria que o governo iria construir o monumento.
Em 14 de maio, após a imprensa divulgar que moradores do bairro paulistano de Higienópolis haviam conseguido, via abaixo-assinado, que o governo Geraldo Alckmin desistisse de construir uma estação de metrô no local, uma corrente desencadeada pela internet promoveu, diante do shopping Higienópolis, um ato público autoproclamado Churrascão da Gente Diferenciada, em alusão a frase de uma moradora do bairro que justificou o repúdio dos moradores locais ao metrô naquele bairro afirmando que o transporte público atrairia para lá “gente diferenciada”.
Este blogueiro participou do ato, que ajudou a convocar, e publicou o post Crônica “primária” de um Churrascão diferenciado. O texto narrou com humor a manifestação.
Em 17 de maio, ainda na linha do humor, seria publicado o post Por gentileza, vão se sodomizar, que reagia a mais uma tentativa da mídia de desmoralizar o governo Dilma. O livro “Por uma vida melhor”, da professora Heloisa Ramos, adotado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), vinha sofrendo bombardeio por tentar explicar a pessoas em processo de alfabetização quando usar o português formal e o informal.
Em 7 de junho, após semanas a fio de agonia política, o blog comenta a queda de Antonio Palocci no post Quem perde ou ganha com a demissão de Palocci , quando previu que, ao entregar cabeça dele, o governo Dilma estava dando início a uma temporada de caça a ministros que o imobilizaria em seu primeiro ano com a queda (em média) de um ministro a cada 45 dias.
Em 1º de julho, no mesmo dia em que o francês Dominique Strauss-Kahn, então diretor-gerente do FMI, fora preso nos Estados Unidos sob acusação de estupro, aqui se publicou o post O caso Dominique Strauss-Kahn. O post pedia cuidado com a condenação sumária daquele que, então, era o pré-candidato a presidente da França que liderava as pesquisas.
Em 27 de agosto, o blog comenta a tentativa de um jornalista da revista Veja de invadir o quarto de hotel em que estava hospedado o ex-ministro José Dirceu. O post Veja ilustra por que a mídia precisa de leis traça um paralelo entre os métodos da revista Veja e os de órgãos de imprensa britânicos que estão tendo que responder penalmente por usarem métodos similares aos da publicação brasileira.
Em 9 de setembro, dois dias após a primeira das várias “marchas contra a corrupção” que se diziam “apartidárias”, este blog, no post A reação do PT e o novo Cansei, já dizia que aquela série de manifestações que ensaiava seus primeiros passos sob grande apoio publicitário da imprensa não passava de uma versão menos tosca do movimento Cansei, que tentou barrar a reeleição de Lula em 2006.
Em 15 de setembro, seria publicado o manifesto Abaixo a Corrupção da Mídia . O manifesto seria lido durante o ato público do Movimento dos Sem Mídia pela democratização das comunicações que ocorreria no dia 17 daquele mês no Masp, na avenida Paulista. O ato reuniu cerca de 100 pessoas, segundo a polícia militar, e 200 pessoas, segundo os organizadores.
Em 23 de setembro, o post Protestos contra a corrupção têm os dias contados previu com precisão que o caráter político-partidário daquele movimento capitaneado pela grande mídia tucana não teria futuro justamente por ser artificial e por tentar esconder seu real propósito, que era o de desgastar o governo Dilma. Os atos iriam minguando até sumirem.
Em 26 de setembro, é publicado documento que detalha em profundidade o que se pretende quando se fala em democratização da comunicação, o texto Lei da Mídia: razões, entraves, detalhamento e viabilização.
Em 29 de setembro, o blog publica o post mais lido do ano: Imprensa brasileira foi à França reclamar de premiação a Lula. Foram 892 menções no Twitter, 542 comentários no blog e 5.216 “curtidas” no Facebook.
O texto teve grande repercussão por ter dado um furo: Folha, Estado, Veja e Globo mandaram repórteres à França para reclamar com Richard Descoings, diretor do instituto francês Sciences Po, por escolher o ex-presidente Lula para receber o primeiro título Honoris Causa que a instituição concedeu a um latino-americano.
O caso virou piada no Twitter devido à repórter de O Globo Deborah Berlinck ter feito a Descoings a seguinte pergunta: “Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?”. Foi criada, então, a hashtag #porquenaoFHC, que rapidamente atingiu os Trending Topics do Twitter.
Em 2 de outubro, outro post se tornaria um dos recordistas de leitura no ano. A medicina é branca fez muita gente se dar conta de que, no Brasil – e, sobretudo, no Sul e no Sudeste – praticamente não existem médicos negros ou descendentes de negros, sendo quase todos descendentes de europeus e nascidos em famílias ricas ou de classe média alta.
Em 9 de outubro, outro post campeão de audiência. A mulher que enfureceu a mídia denunciou campanha difamatória contra ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Iriny Lopes, por ter oficiado ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) pedido de suspensão de peça publicitária em que a “top model” Gisele Bündchen insinua oferta de sexo a um homem como forma de “compensá-lo” por bater seu carro e “estourar” o limite de seu cartão de crédito. O texto foi parar no portal da Fundação Perseu Abramo.
Em 13 de outubro, mais um post marcante. Manifestantes contra a corrupção vêem país pior do que há 10 anos , na verdade, foi um trabalho de reportagem. O blogueiro se misturou à versão paulista das “marchas contra a corrupção” que haviam ocorrido pelo país no dia anterior (12/10). Através daquele relato, terminaram as dúvidas de que aquele movimento tinha profundo viés político-partidário.
Em 14 de outubro, o blog publica post bem humorado, mas que não agradou nada, nada à colunista da Folha de São Paulo Eliane Cantanhêde. O texto Entrevista com Eliane Cantanhêde fez a jornalista escrever nota no Twitter insultando e ameaçando seu autor apesar de se referir a uma homônima dela. Veja, abaixo, a reação da colunista da Folha.
Em 18 de outubro, ainda contaminado pelo humor, o blogueiro publica trecho de conversa que teve por telefone com o ator José de Abreu. O post José de Abreu: “Civita avisou ao PT que derrubará Dilma” se espalhou como fogo pela internet e foi reproduzido por centenas de blogs, inclusive pelo de Paulo Henrique Amorim, que endossou as palavras de Abreu em seu post Abreu e Edu têm razão. Civita quer derrubar Dilma.
Em 22 de outubro, um post desalentado, porém significativo do clima político que então vigia e que decorreu da primeira da série de demissões de ministros que teve início lá em junho, quando se previu, aqui, que a reiterada prática de Dilma de ceder à imprensa colocaria as Instituições de Joelhos diante dela. Afortunadamente, parece que a presidente despertou de suas ilusões de paz com os gorilas midiáticos e decidiu parar de ceder.
Em 27 de outubro, o post Internautas criticam governo por covardia diante da mídia refletiu o clima político diante de um governo que perdeu metade de 2011 administrando bombardeios contra ministros. Curiosamente, alguns dos que agora criticavam o governo haviam chamado de “teoria conspiratória” as previsões de que a demissão de Palocci desencadearia uma reação em cadeia. Os quase 500 comentários mostraram que a maioria dessas pessoas mudou de ideia.
Em 30 de outubro, finalmente a pior notícia do ano e, talvez, do século XXI – ao menos para a grande maioria dos brasileiros: Lula estava com câncer. O post Lula e os porões da política denunciava que a mídia estava comemorando – sim, co-me-mo-ran-do – o mal que se abatera sobre seu maior inimigo, do que decorreram ondas de lunáticos que passaram a postar as maiores barbaridades na internet sobre um fato que entristecera a quase totalidade do povo brasileiro.
Em 1º de novembro, o blog lança a Campanha respeitem Lula, o Estadista que ergueu o Brasil, em solidariedade ao ex-presidente e em repúdio a campanha agressiva desencadeada originalmente pela mídia contra o adversário fragilizado. Até o momento, além dos 553 comentários de apoio ao ex-presidente, a página da campanha no Facebook já contabiliza 2.676 adesões.
Em 8 de novembro, no dia em que a Polícia Militar invadiu a USP com centenas de homens, helicópteros, blindados, em uma legítima operação de guerra, este blog publica o post Enquanto PM brinca de ditadura na USP, bandidagem faz a festa.
Em 17 de novembro, o segundo post mais lido do ano. Belo Monte de inúteis versou sobre vídeo estrelado por atores da Globo que tratava de desinformar a sociedade em relação à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, difundindo absurdos como o de que seria possível suprir a demanda energética do país com energias eólica ou solar. O post desencadeou uma reação que esmagou o trololó que há muito vinha sendo tecido contra a obra.
Em 2 de dezembro, no post Debate público sobre lei da mídia só virá com mobilização popular, o blog anuncia entendimentos embrionários entre setores da sociedade civil que pretendem se unir para desencadear uma grande campanha nacional em 2012 pela democratização da Comunicação.
Em 7 de dezembro, no post PF intimará Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi o blogueiro anuncia que fora intimado pela Polícia Federal para negar ou ratificar representação que assinou em 2010 em nome do Movimento dos Sem Mídia e que protocolou no Ministério Público para denunciar supostas fraudes em pesquisas eleitorais, e que, feita a ratificação, aqueles institutos de pesquisa seriam intimados a apresentar à PF os dados das pesquisas suspeitas.
Em 9 de dezembro, é lançado o maior best-seller político do século XXI no Brasil. E a Imprensa ‘independente’ esconde livro sobre privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro, que em menos de um mês já vendeu mais de cem mil exemplares.
Em 10 de dezembro, o blog faz uma proposta aos seus leitores Doe um livro ao Ministério Público Federal – o livro, no caso, é A Privataria Tucana. Entre leitores do blog (em 348 comentários) e amigos do Facebook e do Twitter, quase 700 pessoas se comprometem a enviar o livro pelo correio à Procuradoria.
Em 16 de dezembro, outro furo: o post Folha ignora ombudsman e omite fatos sobre privataria tucana reproduz cópia de crítica interna da ombudsman da Folha, Suzana Singer, que recebeu de leitor que quis se manter anônimo. O texto da ombudsman contém críticas duras à Folha por ter escondido o livro-bomba da privataria e por ter se limitado a contestá-lo quando finalmente tocou no assunto.
Em 22 de dezembro, uma conclusão inescapável: Só o jornalismo salva a si mesmo.
Em 27 de dezembro, a última matéria de repercussão expressiva no ano. Baseado em pesquisas na web e no próprio livro A Privataria Tucana, o blog narra A carreira meteórica de Verônica Serra, texto que pesquisa no Google revela que, até agora, foi citado 21.500 vezes na internet.
Ufa! Foi um ano cheio não só para o blogueiro e para seus leitores, mas para a política no Brasil. Um ano de muita luta, de muita doação de todos nós que fazemos esta página. Em 2012, pois, estaremos de prontidão para continuar lutando para fazer do Brasil um país em que todos possam exercer sua cidadania plenamente.
Feliz 2012 a todos os leitores e leitoras desta página. Ano que vem tem mais.